segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Ditaduras



Vale a pena analisar-se mais um pouco o artigo de C. Maia, dado à estampa no jornal católico "Novidades", em Abril de 1953, ano de todos os ataques ao Espiritismo em Portugal. Não que tenha sido único ou que tenha sido especialmente acutilante. É apenas porque foge ao tom jocoso e grosseiro habitual, e ensaia uma postura de seriedade, escudado na opinião de Egas Moniz.
A obra "Ao lado da Medicina", de Egas Moniz, a páginas 21-23, trata de superstições e cataloga como superstição "o espiritismo", ou aquilo a que, por desconhecimento ou espírito de seita, decidiu que é o Espiritismo.

Egas Moniz avalia "a nova religião, se assim lhe podemos chamar" como contando no mundo "para cima de doze milhões de prosélitos". E acrescenta que "A Imprensa ocultista é numerosa; a propaganda é imensa. Em 1904, já existiam cento e trinta revistas e jornais diversos e o seu número não deve ter diminuído."

A preocupação de Moniz parece ser com os números que a seu ver ameaçavam a hegemonia das ideias que lhe eram caras... Factos, os tais factos que comprovariam que "o Espiritismo não gera uma psicose especial, mas concorre para a expansão da loucura", esses, não há.

Há a citação do psiquiatra Lévy-Valinsi, que chamou ao Espiritismo a "ante-câmara da loucura". E do austríaco Donath, que o classificou de "superstição vergonhosa para o nosso tempo, pois embrutece o povo e é perigosa para a saúde".

Egas Moniz, na mesma linha da acusação cega e infundada, não se coíbe ainda, de afirmar que "São os débeis mentais, os degenerados, os psicacténicos, os indivíduos de limitada instrução e grande sugestionabilidade que formam a corte dos adeptos mais fervorosos. Sem essa acção prejudicial, todos esses indivíduos poderiam estacionar na vida social, com relativa normalidade. Diz George Dumas que entre os doentes mentais, por ele observados, de tipo paranóide e de delírio de influência, sessenta por cento tinham praticado o espiritismo. Sinistra superstição em que a fraude e - o que é pior - actos delituosos se praticam, segundo informa Goriou, que frequentou esses meios.

A estratégia, já então nada inovadora, foi a de catalogar como "espiritismo" tudo o que tivesse, de perto ou de longe, a ver com mediunismo. Ou seja, onde se falasse de comunicações com o Além, reais ou meras fraudes, o carimbo de "espiritismo" passava a ser aplicado pelas autoridades e pela Imprensa afecta ao regime e ao seu pensamento único, totalitário.
Assim, não admira que a exploração comercial da mediunidade, quantas vezes a par com a superstição mais ingénua e a trafulhice mais desbragada, passasse a ser contada no rol dos males do "espiritismo".

Os obsidiados, que, hoje como ontem, enchem os hospícios, caso tivessem apresentado indícios de fenómenos mediúnicos, eram, como hoje são, igualmente postos no rol dos "espíritas".

Ontem como hoje, não falta quem, ao ver um médium espontâneo a cair na rua, a contorcer-se e a falar com outra voz que não a sua, logo sentencie que se trata de "espiritismo"... nessa ordem de ideias, assimilando tudo o que é charlatanaria mística e mediunidade descontrolada à designação genérica de "espiritismo", tudo é espiritismo, nada é espiritismo, e toda essa argumentação de nada vale, por ser absurda, por ser indigna de pessoas que se tenham na conta de intelectualmente honestas, e que, por professarem uma determinada religião, deveriam ser as primeiras a respeitar quem, como eles, professa a crença que mais lhe fala ao coração.

Não era menos médica que Egas Moniz, Amélia Cardia, uma das primeiras mulheres médicas portuguesas. E era espírita. Não eram menos médicos os que se propuseram iniciar o laboratório de pesquisas metapsíquicas, que serviram de pretexto à ofensiva final contra a Federação Espírita Portuguesa.

Não eram menos sérios, nem menos cultos, nem menos dotados de senso, todos os espíritas que deram corpo à F.E.P., que geriam as suas publicações, que promoviam o seu estudo e a sua divulgação. Mas os detractores do que julgam ser o Espiritismo sempre descobrem que no cérebro dos mais eminentes cidadãos, sob todos os pontos de vista impecáveis, jaz, meio escondido, um ponto fraco e impressionável que os torna ingénuos como crianças perante o "embuste espírita".

Não era menos médico nem menos Nobel da Medicina, Charles Richet, que, não sendo espírita, estudou a mediunidade e concluiu pela sua veracidade inquestionável, no seu "Tratado de Metapsíquica".

Não era menos médico o médico e espírita francês Gustave Gelley, que, na mesma época, lograva conclusões opostas às de Moniz. Porque era espírita? Não. Porque estudava sem preconceito. Sobretudo porque estudava.

Não só não forma loucos, como forma homens melhores, que se esforçam por ultrapassar imperfeições.

A prática mediúnica no Espiritismo não só não forma loucos como forma pessoas equilibradas. Segundo estudos médicos sistemáticos, divulgados no Jornal de Espiritismo, edição da Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, os médiuns espíritas gozam, em média, de mais saúde metal que a média da população.

Os protagonuistas da narrativa Bíblica que expulsavam os maus Espíritos e dialogavam com os bons, à luz da ciência destas luminárias prevenidas da Medicina, como Egas Moniz, seriam decerto considerados loucos ou endemoninhados.

A campanha do "Novidades", que fez publicar artigos jocosos e boçais, associando o nome do Espiritismo aos desmandos que davam na real gana dos articulistas, revestiu-se de aspectos persecutórios de quem sabia a luta desigual. Do lado espírita, Manuel Caetano de Sousa, na "Revista de Metapsicologia", respondia com educação e com seriedade. O "Novidades" batia nas teclas da mistificação, do delírio, da crendice, da bruxaria, num estilo de fazer inveja aos tão injustiçados carroceiros, que os havia e há bem mais educados. E sobretudo dotados de senso-comum, pois é um vivo contra senso um jornal de orientação religiosa negar à partida, com os argumentos monolíticos dos materialistas, um dos mais belos atributos com que Deus dotou o ser humano: a possibilidade de sentir o pulsar do mundo espiritual, o reino dos Céus de que Jesus falava, e de testemunhar as comunicações daqueles a que os antigos chamavam os Anjos, e que são os Bons Espíritos, as almas dos homens que viveram na Terra.

A Terra, essa, como dizia Galileu, continua a girar, indiferente aos decretos papais que a mandam estar quietinha...

O (Quase) Auto de Fé de Lisboa

 
 
Em vão a Federação Espírita Portuguesa constituiu advogado e reclamou junto das autoridades competentes, na sequência da proibição das suas actividades. O laboratório de pesquisas, que foi o pretexto achado pelo Governo para consumar a proibição, contava na sua direcção com dois médicos, licenciados em Medicina pelas Universidades de Coimbra e de Lisboa, e um licenciado em Ciências Histórico-Filosóficos, pela Universidade de Lisboa.

O Governo não cuidou de nomear ninguém mais "competente", nem promoveu a fiscalização da competência destes elementos, no sentido de provar que não tinham preparação, que não davam garantias de seriedade e que não obedeciam às condições mais elementares do método científico.
 
O currículo de Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior, Ministro do Interior do Governo de Salazar, fala por si...

Após 1953, seguiram-se ainda dez anos de lutas judiciais, infrutíferas. Em 1962, Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior, não se dando ainda por satisfeito, decidiu que a F.E.P. não tinha existência legal, e mandou que fossem arrolados os seus bens e vendidos em hasta pública.

A Biblioteca da Federação, de valor cultural incalculável, esteve em vias de ser queimada. Em 1962, portanto, Lisboa esteve a um passo de ter assistir a mais um Auto de Fé, que só não foi consumado pela intervenção corajosa dos dirigentes espíritas.

Os livros da Federação foram encontrados mais tarde, na Biblioteca Nacional. A sede da Federação, transformada em Cinema, foi entregue à Casa Pia de Lisboa. Preferimos não comentar a brutalidade de todo este episódio e os aspectos sinistros que podem revestir a perseguição religiosa.

"Novidades" de Ontem e de Hoje...



O endurecimento do regime autoritário de Salazar restringiu todo o tipo de liberdades em Portugal. A pouco e pouco, não apenas o Espiritismo, mas outras ideias filosóficas, bem como as religiosas e políticas, foram sendo progressivamente caladas, e os seus partidários vigiados e perseguidos.

A lendária ignorância dos elementos da polícia política do regime, P.I.D.E. (Polícia Internacional de Defesa do Estado), levava, por exemplo, a que incomodassem proprietários de livros sobre o compositor Bach, supondo que se tratava de algo relacionado com a Fé Bahà'i...

O encerramento da F.E.P. não aconteceu de um dia para o outro. Inflamados pelo clima de pensamento único que então vigorava, algumas pessoas ignorantes e preconceituosas, apressavam-se a atacar o que desconheciam... mas que reconheciam ser diferente da religião oficial do regime.

A Rádio Renascença, em Abril de 1952, deu o mote, afirmando numa das suas emissões a partir da cidade do Porto, que nos trabalhos experimentais do Espiritismo compareciam apenas os "demónios", os "anjos caídos" da Teologia católica. Aos espíritas, classificou como "exaltados".

Como sempre acontece neste tipo de ataques, à Teologia das religiões que crêem nos "demónios", vêm colar-se as depoimentos de cunho "científico" Foi o caso de Egas Moniz (na imagem), o médico português que ganhou o Prémio Nobel, um fiel adepto do regime de Salazar, de cujas opiniões se serviu o jornal católico "Novidades", para publicar o artigo "O Espiritismo Concorre Para a Expansão da Loucura".

Egas Moniz foi um médico ultra conservador, partidário de "tratamentos" por choques eléctricos, defensor das lobotomias, e teórico de que todos os comportamentos diferentes do ideal do Estado Novo eram doenças.

O mês de Abril de 1953 foi de investida cerrada contra o Espiritismo. O artigo que usa a opinião de Egas Moniz é uma antologia de caciquismo feroz e de má-fé.

Começa o articulista C. Maia (o protagonista principal da campanha do jornal "Novidades"), por afirmar que a Doutrina Espírita é uma criação da maçonaria e que Allan Kardec pertenceu à Maçonaria. Duas puras mentiras, que, de entrada, servem para o autor "arrumar" o Espiritismo 'como doutrina e como "religião"', nas suas palavras.

Pelas aspas colocadas na "religião" se verifica logo onde estava o problema: o temor de alguma beliscadura na religião oficial...

Depois, o articulista passa à segunda parte do seu panfleto: "arrumar" o Espiritismo como ciência. Melhor dito, passa a negar a possibilidade das comunicações com o Além, catalogando-as todas como fraude. Todo o teor do artigo, no que à parte científica do Espiritismo diz respeito, é de uma ignorância e má-fé confrangedoras.

O combate aos fenómenos espíritas pelos sistemas da negação e da fraude (já analisados por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns"), é tudo quanto se pode extrair do lamentável artigo, que apresenta a "confissão" das Irmãs Fox em relação aos fenómenos mediúnicos como "prova inequívoca" de que os fenómenos espíritas não existem...

Nada de novo, portanto, do sector materialista-religioso que se opõe ao Espiritismo. Nos dias de hoje, à falta de melhor, continua-se a brandir a "confissão" das Irmãs Fox, obtida entre ameaças e subornos da hierarquia católica norte-americana, esquecendo a retractação pública que ocorreu no ano seguinte, esquecendo os milhares de testemunhas dos fenómenos obtidos pela mediunidade das Irmãs Fox, e esquecendo todos os testemunhos e os estudos provenientes das mais diversas fontes.

C. Maia considera, por breves instantes, a possibilidade de ser o Diabo o autor da fenomenologia mediúnica - uma explicação assaz sensata e "científica", aliás...

O Lobo e o Cordeiro


 
«- Era uma vez um cordeirinho que estava a beber água num regato cristalino. Um lobo mau se aproximou e perguntou: Por que turvas a água que eu bebo? O cordeirinho replicou: Não pode ser... eu bebo abaixo...O lobo voltou: Então é seu irmão, seu pai, seu avô...e eu tenho que me vingar. E o devorou porque os violentos não respeitam os inocentes

Popular

A proibição do Espiritismo em Portugal teve uma história muito semelhante à da fábula do lobo e do cordeiro. Acontecesse o que acontecesse, a Federação Espírita Portuguesa nada poderia ter feito para aplacar as intenções do representante dos interesses do Vaticano no Governo Português, o Ministro do Interior, Alfredo dos Santos. O pretexto, que na altura serviu, como teria servido qualquer outro, foi a criação de um laboratório de pesquisas parapsicológicas, a cargo do Dr. Ramiro da Fonseca e do Dr. Aguiar.

Aguiar tinha-se doutorado com uma tese pioneira para Portugal, sobre Parapsicologia. A Federação, sempre dentro dos cânones da mais estrita legalidade e transparência, dirigiu ao Ministério da Educação Nacional um pedido de autorização para o estabelecimento do referido laboratório, pois que de pesquisa científica se tratava.

O pedido veio indeferido, alegando o Governo que os pesquisadores não possuíam competência para tais trabalhos. A F.E.P. solicitou então que fosse o Ministério a nomear gente mais qualificada. E a resposta foi o encerramento da Federação e a confiscação dos seus bens, desde a sede física aos livros da Biblioteca.

A F.E.P. naturalmente que recorreu desta decisão arbitrária, própria dos regimes autocráticos, mas sem êxito. É que, bem ao estilo da fábula do lobo e do cordeiro, a legislação fora mudada, e a F.E.P., à luz da nova legislação, deixava de ter personalidade jurídica, e consequentemente nem reclamar podia...

Os regimes políticos e as pessoas dadas ao pensamento único, nunca se deram bem com o Espiritismo. O Espiritismo defende intransigentemente a liberdade, todas as liberdades que não colidam com a liberdade alheia. Em Portugal as coisas não se extremaram como em Espanha, onde o regime de Franco mandou fuzilar espíritas pelo "crime" de... serem espíritas. Mas ainda hoje, em muitos países e sob governos das mais diversas cores políticas, o Espiritismo é proibido.

A Perseguição ao Espiritismo em Portugal

 
«O edifício do Cinema Rex, na hoje degradada zona lisboeta do Intendente, foi sede da Federação Espírita Portuguesa, fundada em 1925. Ficava ao lado do Real Coliseu onde depois abriu a garagem Auto Lis, junto ao belo chafariz do Desterro. Quando a Ditadura Nacional se transformou, por obra e graça do referendo de 1933, em Estado Novo, a Federação seria perseguida pelo regime e, em 1939, a sede passou a ser um cinema – o Rex. A propriedade do edifício continuou a ser da Federação Espírita, mas a exploração foi atribuída a um particular, o senhor Eduardo Ferreira, um «industrial», como o classificam os documentos, que procedeu às obras de adaptação e construiu um belo cinema com capacidade para 478 espectadores. (...)».

 

No blog Aventar, encontrámos, a propósito de uma crónica sobre Cinema, uma curiosa referência à expropriação dos bens da Federação Espírita Portuguesa, que transcrevemos acima.

O Governo de Portugal, então em processo de aproximação ao Vaticano, que culminaria com a assinatura da célebre Concordata de 1940, não desejava para outras correntes de pensamento as mesmas liberdades e direitos que concedia à Igreja de Roma, nomeadamente nestes dois pontos do supracitado documento:


«Artigo 3.°

 
A Igreja Católica em Portugal pode organizar-se livremente de harmonia com as normas do Direito Canónico, e constituir por essa forma associações ou organizações a que o Estado reconhece personalidade jurídica.

 O reconhecimento por parte do Estado da personalidade jurídica das associações, corporações ou institutos religiosos, canonicamente erectos, resulta da simples participação escrita à Autoridade competente feita pelo Bispo da diocese, onde tiverem a sua sede, ou por seu legítimo representante.
Em caso de modificação ou de extinção, proceder-se-á do mesmo modo que para a constituição, e com os mesmos efeitos .


 
Artigo 4.°

 
As associações ou organizações a que se refere o artigo anterior, podem adquirir bens e dispor deles nos mesmos termos por que o podem fazer, segundo a legislação vigente, as outras pessoas morais perpétuas, e administram-se livremente sob a vigilância e fiscalização da competente Autoridade eclesiástica. Se porém, além de fins religiosos, se propuserem também fins de assistência e beneficência em cumprimento de deveres estatutários ou de encargos que onerem heranças, legados ou doações, ficam, na parte respectiva, sujeitas ao regime instituído pelo direito português para estas associações ou corporações, que se tornará efectivo através do Ordinário competente e que nunca poderá ser mais gravoso do que o regime estabelecido para as pessoas jurídicas da mesma natureza.»

 

Assim sendo, a Federação Espírita Portuguesa foi ilegalizada, os seus bens confiscados, e os espíritas passaram a ser perseguidos pelo regime e acossados pela P.I.D.E., a polícia política do regime autoritário de António de Oliveira Salazar.

Em 1974, um Golpe de Estado propôs-se devolver a Liberdade e a Democracia a Portugal. Instituições políticas, religiosas e filosóficas anteriormente perseguidas passaram a ter direito de existir. No entanto, os bens da Federação Espírita Portuguesa, e a sua sede (adquiridos com as quotizações dos sócios e dádivas generosas, como as de Firmino da Assunção Teixeira), passados 35 anos (!) continuam por devolver. Os espíritas portugueses esperam pelo seu 25 de Abril...

10 Anos Heróicos



Nos Estatutos da Federação Espírita Portuguesa, ficaram consagrados como meios a empregar para atingir as finalidades de união, estudo e cultura moral:

- "Cursos de ciências psíquicas, metapsíquicas, para psíquicas e paleotécnicas".

- "Bibliotecas, museus e laboratórios de investigações metapsíquicas e espiritistas.
 
- "Publicações de cultura moral e social, e uma revista, órgão oficial da Federação".

- Organização e regulamentação de "grupos experimentais, para desenvolvimento das diversas mediunidades e das faculdades metapsíquicas latentes dos seus associados, que assim o desejarem".

-
Cooperação com todos os empreendimentos humanitários que pugnassem por causas como por exemplo o combate à pena de morte, ao alcoolismo, as guerras, aos maus tratos aos animais.

Deste elenco de fins e de meios se pode avaliar da nobreza dos valores que orientaram estes pioneiros. É ainda António Joaquim Freire, que na sua obra "Da evolução do Espiritismo", edição da F.E.P., a par com o relato de muitos obstáculos e canseiras, afirma:


"A opinião pública do nosso País acabou por compreender que o Espiritismo, no seu duplo significado - científico e cristão - é a nova Ciência da alma humana, numa moderna orientação positiva, animado da nobre e progressiva missão de regenerar e espiritualizar a Humanidade por novos métodos e processos que, embora radiquem no sentimento humano, têm de florir e frutificar na sua inteligência, conduta e acção. É um luminoso e radiante Mundo, contendo novos Mundos, que se abrem para todos aqueles que queiram estudar e meditar sobre os complexos problemas da existência e do Destino à luz do Espiritismo."


Foram anos de expansão da Doutrina Espírita e dos novos horizontes que ela desvenda, os que decorreram de 1925 a 1935. Foi intensa a divulgação por meio de palestras, folhetos e folhas soltas. Vicejaram as revistas espíritas, sendo que a "Revista de Espiritismo" e o "Mensageiro Espírita" eram publicadas pela própria Federação, e passavam as fronteiras de Portugal Continental, Insular e Ultramarino, suscitando interesse em países como Espanha e Brasil.

Nomes consagrados mundialmente, e adeptos do Espiritismo, passaram a publicar artigos no órgão oficial da FEP, contando-se entre estes Oliver Lodge, Conan-Doyle, Ernesto Bozzano, André Ripert, Henri Azam, Andry-Burgeois, Quintin Lopez, Jacinto Benavente e Ernest W. Oaten.


Livros espíritas publicados nessa época, também foram muitos, assinados por nomes como Maria O'Neill, Amélia Cardia, Viriato Zeferino Passaláqua, Arnaldo Costa cabral de Quadros, Alberto Zagalo Fernandes, João Antunes, Souza Couto, Francisco Alves, Fernando da Cruz Ferreira, J. J. da Costa Braga, José de Oliveira Rebordão, Maria Veleda, José Pereira de Lima.

Nas revistas espíritas da época, os colaboradores são em número incontável...

Embora não seja importante para o Espiritismo os títulos académicos e a cultura de cada um, é interessante verificar-se que o movimento espírita português desta época reunia intelectos brilhantes, e pessoas que, embora detendo cargos de grande exposição pública, não abdicavam das suas convicções espíritas.


Os esforços de divulgação, no Espiritismo, apresentam sempre a dificuldade acrescida de este ser uma movimento cultural totalmente voluntário. Ou seja: os espíritas têm as suas profissões e dedicam-se gratuitamente à prática e divulgação do Espiritismo. Por isso, todas as palestras, escritos, cursos e demais actividades, são fruto do labor dos espíritas nas suas horas vagas, e os custos saem do seu bolso.

"Em Espírito e em Verdade"



Os Estatutos da Federação Espírita Portuguesa apontavam para três grandes finalidades:

- a união dos espíritas portugueses e sua integração na "grande corrente neo-espiritualista do pensamento científico contemporâneo".

- o estudo do Espiritismo sob os seus aspectos "científico, experimental, filosófico, moral e social, bem assim os seus princípios básicos: - Sobrevivência da alma, Reencarnacionismo ou Vidas sucessivas, Lei da Causalidade através do karma e Comunicação entre encarnados e desencarnados, por intermédio das mediunidades; e ainda as ciências psíquicas que se relacionem com o Espiritismo, bem como as forças hiper-físicas do Universo."
 

- "a cultura moral, derivada das leis fundamentais do Espiritismo, baseado no Cristianismo, na sua pureza original - em espírito e em verdade - despido do véu da letra e de todos os dogmatismos."


Os objectivos traçados pelos espíritas portugueses em 1926, estavam em total sintonia com o espírito da Doutrina. Não se encontra qualquer preocupação com a forma, mas sim com o conteúdo. Não se encontra qualquer tendência para "igrejificar" o Espiritismo, tornando-o numa religião. O sentido da religiosidade espírita não tem que ver com dogmas inquestionáveis, nem com práticas exteriores ou adaptações "igrejeiras".

A par com a popularidade que o Espiritismo lentamente vem reconquistando, também vão aparecendo, infelizmente, alguns desvios resultantes da falta de estudo. Vale a apelo do Espírito de Verdade:

"Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo".

Sobre a Fundação da Federação Espírita Portuguesa

 
 
Vale a pena continuarmos a citar António Joaquim Freire, a propósito de uma mensagem aos espíritas portugueses dando conta dos trabalhos que envolveram a criação da Federação Espírita Portuguesa, em 1926:

"Num país em que se cultivam como plantas de estufa a maledicência e a intriga, deturpando as melhores intenções ao sabor de invejas e emulações inconfessáveis, atascando de vis suspeições as mais nobres atitudes, é extremamente difícil impor à consideração e respeito públicos uma colectividade, muito embora constituída por elementos representativos os mais bem seleccionados."

A. J. Freire prossegue, considerando o leque de fundadores e o entusiasmo dos espíritas portugueses, muito auspicioso, e mesmo sem paralelo no movimento espírita internacional.

Mesmo "o circunspecto diário católico de Lisboa, A Época", se bem que adversário confesso do Espiritismo, não hesitou em, prestar "leal e cavalheiresca homenagm aos valores intelectuais e morais dos Corpos Dirigentes da Federação Espírita Portuguesa", na sua edição de 8 de Agosto de 1926.

Interessante e inspirador é também o facto de alguns membros da Sociedade Teosófica Portuguesa fazerem parte do Conselho Superior Deliberativo da F.E.P.. Freire aponta, propósito, os exemplos do estrangeiro, de cooperação entre correntes neo-espiritualistas hermetistas, rosacruzes, teósofos, martinistas e espíritas, "sob o laço comum do cristianismo integral".

"Cooperação não é fusão" - advertia Freire, que também lembrava que a verdade integral nunca será apanágio de ninguém. A F.E.P., desde a sua origem, repeliu todo o espírito sectário, e promoveu a união entre todos e a tolerância para com todas as crenças e formas de pensar.

Nos seus Estatutos, definia-se como associação federativa de carácter científico e moral.

Problemas de Ontem e de Hoje

 
A António Joaquim Freire, os espíritas portugueses devem muito do desbravar das primeiras dificuldades para dar à Doutrina Espírita o direito de cidadania que possui, ainda que a ignorância continue, a cada passo, a embaraçar-lhe o caminho.

Na revista Fraternidade, segundo pesquisa de Manuela Vasconcelos, compilada na obra "M.E.P. - Movimento Espírita Português", o nosso irmão de ideal e co-fundador da Federação Espírita Portuguesa dá conta das mil e uma andanças e obstáculos que encontrou nessa fase difícil, mas também apaixonante, do estabelecimento do Espiritismo em Portugal.

Transcrevemos breve mas elucidativa passagem:

"(...) foi, precisamente, nessa época, que a acção policial se estava exercendo intensivamente na repressão das cartomantes, magnetizadores, médiuns-curadores, etc., que infestam Lisboa, rotulando-se espíritas, abusiva e indecorosamente, ludibriando os incautos, prestando-se a confusões lamentáveis de que muito se tem ressentido o Espiritismo entre nós, e de que a Federação Espírita Portuguesa se ocupará, certamente, muito em breve, pois já no 1º Congresso Espírita Português foi abordado este abuso inqualificável de gananciosos sem escrúpulos, que precisa ser definido com urgência e clareza, para dignificação do Espiritismo."
 
A atmosfera não era, pois, propícia à aprovação dos Estatutos, e, até certo ponto, com justificados motivos.
 
Qualquer pressão neste sentido teria sido contraproducente, tal é a crassa ignorância sobre assuntos desta natureza que reina nas regiões oficiais, essencialmente negativistas com raras excepções."

Só quem não tenha alguma vez tentado legalizar uma associação espírita em Portugal não deixará de se rever neste relato...

Quanto ao estigma da confusão entre Espiritismo - filosofia cristã e movimento cultural - com formas de comércio da mediunidade, indústrias da adivinhação e curandeirismo, aí alcançaram-se alguns progressos.
 
Os esforços abnegados de muitos espíritas e muitas associações e federações, e dez anos de existência da Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, com uma presença constante nos media, uma divulgação sistemática na Internet, um jornal, e uma denúncia sistemática de todos os abusos conhecidos, surtiram algum efeito. Hoje, graças à acção da ADEP, os vendedores de milagres e prodígios já pensam duas vezes antes de adicionarem à lista dos seus supostos atributos a palavra "espírita".
O tema é vasto, e tem sido profusamente abordado nestas páginas. Em traços gerais, recordamos que nada temos, por exemplo, contra alguém que se proponha lançar cartas ou traçar mapas astrais, contactar os mortos ou vender talismãs.

Em primeiro lugar, e pelo que directamente nos diz respeito, desejamos que essas pessoas não tentem embelezar a lista dos seus títulos com o de "espírita", pois o Espiritismo não se dedica a tais práticas, e muito menos entra em cobranças ou negócios de qualquer espécie.

Em segundo lugar - e isso não é connosco, mas com as autoridades oficiais - achamos que tais profissões devem ser regulamentadas, para segurança dos clientes e dignificação dos praticantes sérios de tais artes.

Na imagem: o IV Salão Automóvel (1º em Lisboa), em 1925, ano em que a se iniciou o processo de redacção e aprovação dos Estatutos da F.E.P..

O I Congresso e a Federação Espírita Portuguesa

 
 
Se percorrermos hoje o mapa das associações espíritas em solo português, o Algarve é das regiões em que a nossa filosofia está mais representada. Era assim já no início do século, e pertenceu à União Espírita do Algarve a iniciativa dos primeiros congressos espíritas realizados em Portugal, ainda a nível regional.

Com a resposta positiva aos dois primeiros congressos regionais do Algarve, em 1925 os espíritas portugueses abalançaram-se à organização do I Congresso Espírita Português. Teve lugar em Lisboa, nos dias 15, 16, 17 e 18 de Maio, teve grande afluência e qualidade nas comunicações apresentadas, reconhecida, de resto, pela Imprensa não espírita da Capital.

Alguns nomes sonantes da sociedade portuguesa da época eram grandes entusiastas do Espiritismo e foram grandes impulsionadores deste I Congresso. Algumas destas figuras, anos antes, tinham feito parte do Instituto Internacional de Psicologia.

Alguns exemplos:

Viriato Zeferino Passaláqua (general); António Joaquim Freire (médico e escritor); Acácio Martins Velho (advogado e escritor); João José da Silva (magistrado); Leonardo Coimbra (filósofo, professor e político); Amélia Cardia (médica e escritora); Adolfo Sena (docente da Faculdade de Ciências de Lisboa); Maria O'Neill (docente da Faculdade de Ciências de Lisboa); Pedro Cardia (jornalista); António Lobo Vilela (matemático e escritor); Artur Sangreman Henriques (major); João Catanho de Menezes (advogado e político);

Cerca de um ano depois, nascia a Federação Espírita Portuguesa, a 26 de Maio de 1926. Não foi tarefa fácil a redacção dos Estatutos e a condução de todo o processo legal, a cargo de António Joaquim Freire. Contudo, a 31 de Março, em sessão solene, a F.E.P. triunfava dos espinhos do caminho e anunciava os seus propósitos de promover a divulgação da Doutrina Espírita, a união dos espíritas portugueses, e o combate aos charlatães oportunistas que já então usavam indevidamente o qualificativo de "espírita" para iludirem os incautos e fazerem da mediunidade paga e de outros expedientes, seu modo de vida.

Na imagem: Acácio Martins Velho, o primeiro Presidente da Federação Espírita Portuguesa.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

O Fim do Mundo - Conclusão


Em entrevista ao Jornal de Espiritismo, da ADEP, Divaldo Pereira Franco fala sobre a questão do "Fim do Mundo":

«ADEP/JDE – 2012 é um ano mágico? Segundo as tradições Maias e outras, parece que vão acontecer muitas coisas, terramotos, tsunamis.

Divaldo – Eu confesso que não acredito. Porque é provável que os Maias hajam parado o seu calendário por qualquer circunstância que nos escapa. A humanidade gosta muito de tragédias, de fenómenos físicos dolorosos, de apocalipses e desgraças. Os Espíritos nobres afirmam que essas profecias não podem ter data fixa, porque dependem muito do livre-arbítrio da sociedade. Se nós prosseguirmos em determinadas circunstâncias acontecerão tais ou quais ocorrências, mas se mudarmos para melhor acontecerão outras. Então, o ano 2012 talvez esteja dentro desse cômputo das transformações naturais lentas, porque em todas as épocas temos tido maremotos, tsunamis e outros fenómenos sísmicos tão graves quanto esses que ora se encontram anunciados.»

Está nos desígnios da Providência, quando e como a transição do mundo de provas e expiações para mundo de regeneração se dará. Assistimos por estes dias a desencarnações colectivas, que causam impacto da opinião pública, mesmo que os números globais dos que desencarnam diariamente sejam idênticos.

Quem desencarna, não morre. Passa para o mundo espiritual. Como os que todos os dias morrem de fome, de sede, de doenças, e de outras causas perfeitamente evitáveis, não fora o egoísmo que ainda domina o nosso pequeno mundo-Terra.

Confiemos em Deus.

 

O Fim do Mundo - 11



O interior do nosso planeta é composto por metais em fusão, e o nosso planeta já foi bem mais quente que é hoje.

Na verdade, ainda nos nossos dias a Terra só tem uma fina crosta que não está em fusão. A Terra é um planeta dinâmico, está em constante mudança.
Temos terramotos, erupções vulcânicas, ondas gigantes, ciclones, tufões, inundações, glaciações e degelos. O facto de a espécie humana estar disseminada pela superfície da Terra faz com que qualquer desses fenómenos tenham geralmente consequências gravosas.
Em "A Génese"- uma das cinco obras básicas do Espiritismo - os Espíritos afirmam:

“Passou o tempo dos cataclismos gerais, como os que assinalaram os grandes períodos geológicos.”


Nesta obra, editada em meados do século XIX, os Espíritos diziam ainda:

“Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se efectua pelo regular retorno dos mesmos fenómenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas.”

"A Génese" debruça-se, na sua primeira parte, sobre a formação da Terra, entre outros assuntos. A Ciência actual ainda não os desmentiu, e, pelo andar dos acontecimentos, não se prevê que esteja à porta um cataclismo global, como algumas religiões afirmam.
Não é missão do espiritismo fazer Ciência. O Espiritismo, no entanto, não sustenta nenhuma crença que vá contra a Razão e contra a Ciência.

O Fim do Mundo - 10

 

Em Mateus, 24, os Apóstolos perguntam a Jesus:

- Que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?

Jesus responde:

- Muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. E ouvireis de guerras e de rumores de guerras.
Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terramotos, em vários lugares. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. 
E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
 
Estas passagens dos Evangelhos têm sido interpretadas como o fim da vida na Terra. Fundidas com ideias como a da "ressurreição dos mortos", estas palavras de Jesus foram aproveitadas pelas religiões para construir um cenário apocalíptico de destruição generalizada da Terra.
Segundo essas ideias, forjadas na Idade Média, Jesus descerá dos Céus para julgar todos os homens que viveram na Terra, variando de religião para religião o destino dado aos "puros e aos iníquos".

Essa concepção, nunca afirmada por Jesus, comporta um número infindável de incongruências, como já temos aqui demonstrado.
Por exemplo:

- Para as Testemunhas de Jeová, os "maus" simplesmente serão destruídos. Considera-se nessa religião que Deus não poderia alguma vez condenar alguém ao fogo eterno, um suplício maior que o nosso entendimento...

- Os evangélicos acreditam no suplício eterno.

- Os católicos, presentemente, não estamos a par. O Inferno terá sido abolido pelo Papa João Paulo II. E ainda bem, para tranquilidade dos nossos irmãos católicos...

- Os que não são nem bons nem maus, para onde irão?

- Os que ficarem na Terra, como sobreviverão, sendo tão vasto o número dos seres humanos que já viveram neste acanhadíssimo planeta?

- Poderão reproduzir-se? Se puderem, o problema agrava-se...

É todo um rol de interrogações que obstam a esta teoria, que mais infantil nos soa se tomarmos consciência da insignificância do nosso planeta na imensidão do Universo...

Qual é a interpretação espírita, então?

Para o Espiritismo, o fim do mundo será o fim de um mundo, o fim de um estado de coisas. Não se fará decerto em cerimónia oficial, no dia tal às tantas horas. O mundo de provas e expiações em que actualmente vivemos, dará gradualmente lugar a um mundo de regeneração, mais pacífico, mais justo, onde o Amor será a Lei Maior.

Vejamos o que diz Jesus em João 14:16-26:

16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco,

17 o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.

18 Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.

19 Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis.

20 Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.

21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.

22 Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo?

23 Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.

24 Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.

25 Isto vos tenho dito, estando ainda convosco;

26 mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”


Em nossa opinião, as Escrituras devem ser lidas no seu todo, no seu contexto, e nunca destacando e justapondo as passagens que possa justificar uma dada doutrina. As duas passagens bíblicas constantes neste texto inserem-se em toda uma linha de pregação de Jesus, onde está presente a promessa de um mundo melhor. Não apenas no reino dos Céus (no Além, no mundo espiritual), mas também aqui mesmo, na Terra.

No famoso sermão das Bem-Aventuranças, Jesus felicita os mansos, porque herdarão a Terra. Não herdarão a Terra saindo das tumbas no dia do Juízo Final. Reencarnarão numa Terra renovada, onde só reencarnarão Espíritos que acompanharam a evolução do planeta.


O Fim do Mundo - 9

 

Quem leu as obras básicas do Espiritismo (pelo menos O Livro dos Espíritos, que é essencial), está familiarizado com esta classificação:

Diferentes categorias de mundos habitados:
 
Mundos primitivos

Mundos de expiação e provas

Mundos de regeneração

Mundos ditosos

Mundos celestes ou divinos


Não temos na Terra, ainda, qualquer confirmação de que existam outros mundos habitados no Cosmos. No entanto, já há século e meio que os Espíritos explicaram que os mundos evoluem. A Terra já foi um mundo primitivo, e é hoje um mundo de provas e expiações.

É também fora de dúvida para a comunidade científica que o Homem não apareceu de repente sobre a Terra. Mesmo a Igreja Católica Romana, que tanto verberou o Evolucionismo dos cientistas Charles Darwin (agnóstico) e Alfred Russell Wallace (espírita), já admite que não faz sentido negar as evidências.

O ser humano, tal como os outros animais, tal como as plantas, tem evoluído, ao longo de milhões de anos. Os achados arqueológicos assim o demonstram, sem margem para dúvidas. Assim como não há dúvidas de que existiram dinossauros e de que os répteis são antepassados das aves, também não há dúvidas de que o homo sapiens evoluiu a partir de um ramo da Ordem dos Primatas.



A ordem dos Primatas divide-se em três grupos principais: os prossímios, platirrinos (os macacos do novo mundo) e os catarrinos (macacos do velho mundo), grupo no qual o ser humano se inclui:

Não é motivo de vergonha sermos aparentados com os outros Primatas. Na sua caminhada, o Espírito vai reencarnado e vai evoluindo. O seu invólucro carnal acompanha a sua evolução moral e intelectual. Em vidas pretéritas, tínhamos como objectivo a sobrevivência. As relações humanas eram baseadas na lei do mais forte, os costumes eram rudes.
O progresso da moral e dos costumes, se compararmos o mundo de hoje com o do século XVIII ou XIX já é abismal. A Segurança Social, o fundo de desemprego, o direito de voto, a igualdade entre sexos, os direitos das minorias, a igualdade "racial", os cuidados primários de saúde, a assistência na doença, a propriedade privada, o direito de livre circulação, a liberdade de expressão, a jornada de trabalho fixa, a "semana inglesa", os direitos dos trabalhadores, o livre acesso à Justiça, as Organizações Não-Governamentais (Cruz Vermelha e outras), a liberdade religiosa, e tantos outros direitos, são relativamente recentes.

Mas a aquisição destes direitos, a consumação destes progressos, custou sacrifícios, teve os seus mártires e os seus opositores. O mundo evolui, com maior ou menor sacrifício. A Terra ainda será um mundo de regeneração, um mundo feliz, e finalmente um mundo divino.

Daí as palavras de Jesus:

“Bem aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5.5)

Os que forem mansos e humildes de coração, merecerão a bênção de continuar a reencarnar no nosso planeta regenerado.
É certo que se assiste por estes dias a cheias, derrocadas, terramotos, tsunamis e outros violentos fenómenos naturais. O Mundo de Regeneração está aí à porta. Os que agora partem, muitas vezes no meio de catástrofes naturais assustadoras, em breve estarão de regresso, numa Terra renovada e muito mais feliz e pacífica!

Dizem os Espíritos:


“O progresso é a lei da Natureza.
Ao mesmo tempo que os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam.
Segundo esta Lei, a Terra já foi mundo primitivo, é mundo de expiação e provas, e em breve será mundo de regeneração.
A lei de Deus imperará.”



O Fim do Mundo - 8


Quem assim terá falado foi Jesus de Nazaré, que, modelo de homem justo para a Doutrina Espírita. Desgraçadamente, muitos Homens quiseram fazer de Jesus algo que ele nunca foi, um líder religioso. Jesus foi um líder espiritual, pela força do seu exemplo moral e da sua sabedoria.

Dentre as frases que se lhe atribuem, a esta, nós, espíritas, interpretamos como uma afirmação velada de que no Universo nem só a Terra é habitada; e de que existe mais que uma dimensão no Universo.

A Ciência dos nossos dias dá razão a esta interpretação das palavras de Jesus.



Carl Sagan (1934 - 1996), que foi também um líder, mas no campo da Ciência e da divulgação científica, fez estas interessantes afirmações:

"Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço."
"Às vezes acredito que há vida em outros planetas, às vezes eu acredito que não. Em qualquer dos casos, a conclusão é assombrosa."

Carl Sagan, um cientista respeitado, não hesitou em apoiar e liderar projectos que visavam encontrar vida extra-terrestre, e mesmo vida inteligente extra-terrestre.
Alguns de nós ainda se lembram do lançamento de um satélite que transportava uma mensagem codificada destinada a possíveis seres inteligentes residentes algures por esses Cosmos. O chamado Disco de Ouro da Voyager contém 115 imagens e vários sons da Natureza, música de vários autores e géneros, saudações em 55 línguas e mensagens do então Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter e do então Secretário Geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim.

Num caricato episódio que fez lembrar as objecções papais à nudez das figuras da capela Sistina, em Roma, também a nudez do casal humano constante na mensagem (ver abaixo), foi muito criticada...



Frank Drake, (n. 1930), um cientista igualmente de créditos firmados, viu a sua equação (a famosa Equação de Drake) ser bem acolhida entre a comunidade científica.
Baseado no cálculo de probabilidades, Drake procura determinar o número aproximado de civilizações da nossa galáxia com as quais temos possibilidade de estabelecer contacto.

Alguns sectores religiosos conservadores consideram uma blasfémia que se possa conceber vida fora do nosso planeta. Basta que se estude Astronomia, e se tome consciência da dimensão do espaço sideral, para que se conclua que a Terra é um grãozinho de areia minúsculo, em comparação apenas com a nossa humilde galáxia...
Quando se fala, pois no "Fim do Mundo", com Deus em cima das nuvens a presidir ao julgamento "dos vivos e dos mortos", quem esteja familiarizado com a grandiosidade do Universo, não pode deixar de reprimir um sorriso.
Quanta presunção, a de pensarmos que Deus esgotou a sua Criação na nossa minúscula morada terrestre...

O Fim do Mundo - 7


Os adeptos do "Fim do Mundo" asseguravam que havia "dados científicos" que permitiam prever a catástrofe para breve. Um deles eram as supostas alterações drásticas no campo magnético da Terra. A N.A.S.A. já explicou que as alterações que se registam são as normais e expectáveis. Aliás, esconder alterações significativas, se as houvesse, seria impossível, pois as consequências seriam visíveis.


O mesmo se pode dizer da actividade solar, que se mantém dentro dos padrões cíclicos.

Acresce que o calendário Maia, tal como o nosso, o Gregoriano, era cíclico. O ano de 2012 é o de final de um ciclo de contagem de tempo, e não do fim do planeta, ou do Universo.




Resta o planeta Nibiru, referido por astrónomos da Antiguidade, mas desconhecido dos astrónomos actuais. Ainda que exista tal planeta, nada faz prever que saia da sua órbita e venha colidir com a Terra.


Podemos, pois, estar tranquilos. Mas, ainda que viesse aí o Fim do Mundo, deveríamos estar tranquilos na mesma, pois se cremos em Deus, nada devemos temer.

O Fim do Mundo - 6

O ano de 1999 começou com um certo medo no ar. A passagem de 1999 para 2000 (que muitas pessoas ainda acham que foi a passagem de milénio...) e as previsões de Nostradamus, impressionaram muito boa gente. Michel de Nostredame (1503 - 1566) foi um farmacêutico, astrónomo e astrólogo francês, que, supostamente, teria capacidades de prever acontecimentos futuros.

No entanto, como fez as previsões em linguagem poética e simbólica, a polémica sobre a sua autenticidade nunca terá fim. A seguinte passagem da sua obra foi a que incendiou as imaginações em 1999:

O ano mil novecentos noventa nove, mês sete
Do céu virá grande Rei assustador
Ressuscitar o grande Rei dos Mongóis
Antes e depois de Marte reinar por boa hora

Terá sido uma previsão do 11 de Setembro que falhou por três meses? Terá sido uma previsão que não se realizou? Terá sido Nostradamus alguém que deu simplesmente largas à imaginação?

Actualmente é a famosa Profecia Maia que mais uma vez aponta o Fim do Mundo para 2012. Valha-nos que Isaac Newton ( 1642 – 1727), famoso físico, matemático, teólogo, filósofo e alquimista, anunciou que a data fatídica será 2060, para dar esperanças aos mais alarmistas...

Uma confusão que é necessário desfazer é entre a realidade e a ficção. A receita de misturar realidade e ficção deu resultado com O Código Da Vinci, pelo que parece que será tentada ainda muitas vezes, mas  isto assusta os incautos!...

O filme "2012" é uma obra de ficção. Há de facto um calendário Maia que acaba em 2012, mas daí a dizer-se que será o Fim do Mundo, vai uma distância de todo o tamanho...
Os calendários que temos pendurados nas nossas casas também acabam em 31 de Dezembro de cada ano, e no entanto a vida continua...

(e esta série de posts também, se Deus quiser...)


 

"O Fim do Mundo" - 5


Um dos casos mais curiosos de anúncio do "Fim do Mundo" foi o do monge alemão Michael Stifel (na imagem), que era também astrólogo e cujos cálculos planetários o levaram a fixar a data fatídica em 1533.
Uma valente sova de pau de marmeleiro, administrada pelos populares que se sentiram enganados, terá retirado ao monge o hábito dos cálculos apocalípticos...


Não menos famoso e ainda mais espectacular foi o caso do agricultor norte-americano William Miller. Era um estudioso apaixonada da Bíblia, e quando encontrou a seguinte passagem:

“E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”

Daniel 8:14

concluiu que o "Fim do Mundo" se daria em dia 22 de Outubro de 1844. Esse dia ficou conhecido como o do Grande Desapontamento.
No entanto, as igrejas a que Miller deu origem (chamadas Milleristas ou Adventistas) continuam a anunciar periodicamente a destruição da Terra pelo fogo, a resurreição dos mortos e o regresso de Jesus para o Juízo Final.
Com os resultados que se conhecem.
 

O Fim do Mundo - 4

 

Seria fastidioso enumerar todos os "mensageiros do fim do mundo" que já existiram. Dos mais ilustres salientamos por exemplo o alemão Johannes Stoeffler (1552-1531), um conselheiro da Corte, astrólogo e catedrático que previu o Apocalipse para 20 de Fevereiro de 1524.
Von Iggleheim, um conde adepto das previsões de Stoeffler, construiu uma "arca de Noé" com três andares.

No dia anunciado, começou a chover logo de manhã. Uma multidão acorreu, em pânico, de tal forma que acabaram por se chacinar mutuamente, a arca foi destruída, e o mundo... não acabou!

O Fim do Mundo - 3

Sem querermos melindrar alguns movimentos apocalípticos que nos afiançam que "o Fim está próximo", dado que, segundo eles, "nunca se viu" tanta impiedade e frieza no coração dos Homens, lembramos por exemplo Cipriano de Cartago, orador, bispo e advogado, que, no ano 250 garantia que:

“Os pecados dos cristãos são prelúdio e prova de que o fim dos tempos está próximo”.


No ano 500, nova onda de terror varreu o mundo cristão, e no ano 1000 ainda mais, de tal forma que os testamentos da época consideravam uma certeza o final dos tempos que estaria prestes a a ocorrer.
No século X, como hoje, a Guerra reinava no mundo. A Europa era um continente particularmente fustigado por esse flagelo, sofrendo sucessivos ataques por hordas de bárbaros Alanos, Suevos, Vikings, Visigodos, Bretões, Saxões, Magiares, Eslavos, Godos, Ostrogodos.
Terá sido dos piores períodos históricos do Velho Continente. A fome, a peste, as pilhagens, os massacres constantes dos bárbaros, tornavam a vida diária extraordinariamente penosa.

No ano de 1033, ainda por cima, passavam 1000 anos da morte de Jesus. O Fim do Mundo não veio.

O Fim do Mundo - 2

Dois "motivos" que em todas as épocas têm levado muita gente a crer que estão próximos os "dias do Fim", são o crescimento da malvadez dos homens e... os números "redondos".


O teólogo Justino, também conhecido como S. Justino ou Justino Mártir (100 - 165 d.C.), no ano 130 da nossa Era, não tinha quaisquer dúvidas em afirmar: “Deus está a atrasar o Fim do Mundo”.
Passavam 100 anos do início da pregação de Jesus de Nazaré, e, para as pessoas da época, era mais que tempo de "o mundo acabar", de se dar o Julgamento Final e de os "escolhidos" habitarem a Nova Jerusalém, o Paraíso Terrestre, ou irem para o Céu, para a direita de Deus-Pai. Os iníquos, os "pecadores", naturalmente iriam para o Inferno.

Já falámos sobejamente neste blogue (veja-se nas etiquetas da barra lateral), de infernos, demónios e visão espírita da Bíblia. Não nos vamos agora deter nessas considerações. Fiquemos para já com a ideia de que desde há 2 mil anos constantemente o "Fim dos Tempos" é anunciado "para breve".
 

"O Fim do Mundo" - 1

 Ainda há poucos anos reinava grande apreensão, por causa do "fim do mundo", que se aguardava para o ano 2000, e eis que estamos de novo imersos em ambiente de Apocalipse, por causa do filme "2012"... 

Também recentemente, a obra de ficção policial "O Código Da Vinci" andava nas bocas do mundo, sem que aparentemente as pessoas entendessem que se tratava disso mesmo: ficção.


Esta moda do fim do mundo já vem de longe. Falando apenas do chamado mundo ocidental e do período pós-Jesus, tivemos, logo no ano 70 da era cristã, a destruição do Templo de Jerusalém.

Findo o período de cativeiro na Babilónia, o Povo Judeu, regressado à Pátria, ergueu o Segundo Templo, para substituir o antigo Templo de Salomão. Este templo manteve-se integralmente erguido entre 515 a.C. e 70 d.C.. Nesse ano, as revoltas dos Judeus contra a ocupação Romana atingiram um ponto crítico, que culminou numa grande revolta em que foram massacrados um milhão de judeus, às ordens do general Romano Tito Flávio.

Quando vemos na televisão os judeus fazendo as suas orações junto ao Muro das Lamentações, esse muro é a única porção do Templo que ficou de pé após esses dramáticos acontecimentos.

Esse foi considerado, para alguns judeus dessa época, o cumprimento da profecia:

"Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada."

(Mateus, 23:37-39 e 24:1-2)

Imagina-se a desorientação e o pavor dos sobreviventes, que consideraram que se tratava do fim do mundo. No entanto, a vida continuou, e noutros lugares do mundo nem se soube dessa tragédia.

A Prece - 8


Se não entendo o que significam as palavras, eu serei bárbaro para aquele com quem falo, e aquele que me fala será para mim bárbaro. Se oro numa língua que não entendo, meu coração ora, mas minha inteligência está sem fruto.
- Se não louvais a Deus senão de coração, como um homem, entre aqueles que não entendem senão sua própria língua, responderá amém, ao final da vossa acção de graças, uma vez que ele não entende o que dizeis? Não é que vossa acção não seja boa, mas os outros dela não estão edificados.

(Paulo, 1a. Epístola aos Coríntios, cap. XIV, v.11,14,16 e 17). 

Um nosso leitor ou leitora, chamou-nos a atenção para o suposto poder do verbo, nomeadamente das palavras sacramentais. Supomos que se refere ao efeito da sonoridade sobre a psique humana, ou mesmo sobre a matéria. Segundo algumas filosofias orientais, há sons que convidam à introspecção e à meditação, facilitando o acesso a determinados estados de consciência. A Ciência mostra-nos também que há sons capazes de actuar sobre a matéria, e todos nós sabemos, empiricamente, que certas frequências sonoras fazem vibrar de modo ostensivo vidros ou estruturas metálicas.

Não é esse, contudo, o cerne da questão, no que à prece diz respeito. Orando, em voz alta ou em pensamento, não é a forma que conta, mas sim o conteúdo. A prece singela e sentida, bem intencionada, com objectivo digno, torna-nos mais sensíveis à ajuda divina, que nunca nos falta.

Se o proferir de palavras sacramentais, ou a mera repetição automática, constituírem o fulcro da nossa prece, esta carecerá do que realmente conta: a intenção do Bem exteriorizada pelo pensamento, colocando o conteúdo antes da forma.
O tema é vasto, e nunca se sabe o suficiente. Independentemente dos pontos de vista específicos, a oração é, como dizia Ghandi, a respiração da alma.

A Prece - 7


Cada pessoa que conhece a Doutrina Espírita tem uma história a contar. Uns tropeçaram por acaso numa obra espírita; outros procuraram activamente respostas para as suas questões de carácter filosófico; outros, na sequência de algum acontecimento da vida que os fez questionarem-se; outros ainda por mera curiosidade.
Há também aqueles que chegaram ao Espiritismo em busca de um "milagre". Nuns casos, devido a problemas graves, em outros, por superficialidade ou desinformação.
Há Igrejas que prometem milagres; há pessoas supostamente dotadas de "poderes mágicos"; e há quem chegue ao Espiritismo para tentar mais uma vez obter o tal "milagre" que procura.
As motivações são as mais diversas. Num caso será um problema de alcoolismo, noutro será alguém que se crê "perseguido pelo azar", noutro ainda será um amor não correspondido. Muitas vezes são problemas de fenómenos mediúnicos que assustam e causam grande perturbação. Os exemplos seriam muitos.

A posição filosófica do Espiritismo em relação ao Milagre, é que Deus, sendo omnipotente, pode sem dúvida operar os chamados milagres. Cremos, no entanto, que sendo as Leis de Deus perfeitas, Deus não lhes abrirá excepções.

A filosofia espírita procura explicar o porquê das dificuldades que atravessamos; contribui portanto para o esclarecimento, mas também para a melhoria da auto-estima, e da força de vontade para enfrentar as revezes naturais da vida.

Um alcoólico curar-se-á pelo seu empenho na cura. A mensagem espírita incute-lhe alento. Os profissionais de Saúde terão assim condições para fazerem o seu trabalho.

E vem este assunto a propósito do tema da Prece, precisamente porque há quem, recém-chegado, nos peça que indiquemos "uma oração para isto ou para aquilo". Essa é uma visão mágica da prece, que mesmo as religiões tradicionais rejeitam. Não é concebível que Deus tenha preferência por determinadas palavras, por determinada fórmula, para conceder a sua ajuda. Como é ainda menos que tais palavras sacramentais substituam o trabalho que a cada um de nós cabe.

É caso para citar o velho provérbio: "Ajuda-te, que o Céu de ajudará!".

Aí, sim, acontecem milagres... 
(continua)

A Prece - 6


A prece (ou oração), costuma ser menosprezada e ridicularizada pelos que não se debruçaram sobre o assunto. Argumentam esses que orar é um intercâmbio de "favores" entre o ser humano e Deus. Com efeito, se assim fosse, Deus seria interesseiro ou cioso da nossa adulação. Teria defeitos humanos. Tal não é admissível, para uma fé amadurecida.

Deus está constantemente a prover às nossas necessidades. Deus envia-nos os Bons Espíritos (conhecidos nas religiões tradicionais como "anjos"), para nos inspirarem a seguir o bom caminho. 
É a nossa conduta, dependente do nosso livre-arbítrio, que define as boas companhias (dos Bons Espíritos, ou "anjos"), ou as más companhias (dos maus Espíritos, conhecidos nas religiões como "demónios").

A melhor oração é, portanto, a nossa boa conduta - assim advertem os Bons Espíritos, que nos exortam a seguir o exemplo moral de Jesus.

Orar é falar com Deus, é pedir o Seu conselho paternal, é criarmos condições psicológicas para ouvirmos a voz de Deus, que nos exorta a seguir Sua Lei, inscrita na nossa consciência. Se meditássemos e orássemos mais, erraríamos muito menos. "Orar e vigiar" é higiene para a alma. Vigiar as nossas acções, orar para estarmos em sintonia com o Alto.

(continua)