sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Visita de Um Amigo


Francisco Thiesen

No ano de 1977, já a explosiva situação política do pós 25 de Brasil se encontrava estabilizada, visitava Portugal o Presidente da Federação Espírita Brasileira, Francisco Thiesen (na imagem).

14 de Maio

(...) "Portugal espírita tem sofrido muito, mas vai sofrer mais, não pararão aí as dores, as angústias, estamos bem informados disso. É preciso que os espíritas portugueses entendam que ninguém, e mormente no Espiritismo, ninguém pode prescindir da necessidade do testemunho, e os espíritas portugueses são daqueles que no passado muito receberam do Alto. Quando aqui viemos, fomos advertidos de que os espíritas portugueses haviam estudado muito. Dedicaram os seus estudos à pesquisa, procuraram ocupar o tempo que lhes faltava para a livre manifestação do pensamento, a fim de burilar a inteligência no convívio amoroso dos livros. Pois nem, meus amigos, é um património extraordinário, este adquirido por todos vós, mas um património que o Senhor reclama, porque a Ele realmente pertence, e Ele o reclama numa movimentação intensa, numa movimentação intensiva para beneficiar todos aqueles nossos irmãos que não tiveram o mesmo ensejo, a mesma oportunidade de enriquecimento do seu espírito, do seu coração." (...)

Francisco Thiesen percorria o País, acompanhado por Divaldo Franco e por Maria Raquel Duarte Santos (primeira Presidente da F.E.P. após o 25 de Abril). Deixava palavras de alento e apelo ao trabalho espírita, e também avisos quanto a possíveis desvios doutrinários. É o caso destas, proferidas em Outubro de 1977, na Associação Espírita de Lagos:

(...) "É preciso, no entanto, que no movimento espírita em que ora nos engajamos, não seja permitido que nele penetrem doutrinas exóticas ou filosofias que não são pertinentes ao nosso movimento. Devemos respeitar todas as filosofias e todas as religiões, mas nós espíritas, devemos fazer apenas Espiritismo. Não importa para nós espíritas, que outras doutrinas possam eventualmente ser consideradas mais importantes. Se estamos convencidos de que a Doutrina Espírita é para nós a melhor, não há razão para que façamos misturas, estabelecendo confusões e dividindo o nosso próprio movimento. Não é razoável, não é coerente. Não podemos servir a Deus e a Mamon." (...)

E continuamos a a citar, da obra "Movimento Espírita Português", de Manuela Vasconcelos:

(...) "É preciso, pois, que no Espiritismo não percamos de vista os objectivos e os meios válidos. O número de profitentes não nos preocupa, esse problema é de Deus, é de Jesus que é o Governador da Terra. São problemas da Alta Cúpula da Espiritualidade Superior. As nossas responsabilidades são num campo mais restrito e obedecendo aos propósitos do Criador" (...)

O alerta para os perigos do personalismo, também não faltou nesse discurso:

(...) "É preciso que dentro de tudo isto, cada espírita faça a sua parte. O importante não é que cada espírita seja um dirigente, o que importa é que cada um, no Espiritismo, contribua valiosamente para que o empreendimento atinja os seus fins" (...)

A visita do Presidente da F.E.B., em périplo pelo Portugal espírita, foi uma fonte de úteis observações e conselhos, da parte de quem, vindo de fora, e pelas suas reconhecidas qualidades, estava em óptima posição para o fazer.

Com efeito, não é da natureza do Espiritismo o fazer adeptos, mas sim o "colocar a candeia sobre o alqueire". Ao contrário das religiões salvacionistas, o Espiritismo não considera que Deus tenha religião, ou esteja particularmente interessado que a espécie humana terrena faça o seu percurso espiritual dentro desta ou daquela organização religiosa ou filosófica.

O Espiritismo considera que as crenças de cada um são património inviolável, e que não só é possível, como é exigível, que as diferentes crenças convivam em paz, fraternidade e igualdade de direitos e deveres.

O Espiritismo não se considera possuidor de nenhum tipo de mandato divino em condições de exclusividade, para representar Deus na Terra. A religião do Espiritismo é a religião natural, a ligação interior a Deus, pela Razão e pela Fé, ou seja, pela fé raciocinada. O Espiritismo não tem, por isso, chefes, nem sacerdotes, nem admite a profissionalização.

Para os espíritas, um cargo de dirigismo é uma missão como qualquer outra. Não há pessoas mais e menos "importantes" no Espiritismo. Há os que pelo seu esforço já galgaram mais caminho na evolução espiritual, e que por isso servem de exemplo, sem que se deixem afectar pela vaidade. Aliás, como na Terra se desconhecem os méritos espirituais de cada um, o culto da personalidade não cabe, de todo, neste movimento.

A verdadeira humildade não consiste também em modéstias descabidas. Cada espírita deve abraçar as tarefas que lhes caibam, e para as quais seja talhado e tenha gosto, com a mesma entrega, sejam elas de mais ou menos visibilidade. Só Deus sabe o valor dos nossos esforços, e as vãs glórias terrenas não entram, decerto, nas Suas contas...

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