quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Somos Espíritos - 9


S. Cupertino, conhecido como o Santo Voador.



À volta da Bíblia

"Começou para São José de Cupertino, depois de dois anos de terríveis provações, a série de êxtases tão extraordinários, como dificilmente se ouvira narrar antes e depois dele na Hagiografia. Bastava ouvir o nome de Jesus ou de Maria, que ele dava um grito e, literalmente, voava rumo ao objecto amado. Se estava na igreja, voava para junto do altar da Virgem ou do Santíssimo. Se no jardim, para o cimo de uma árvore, permanecendo ajoelhado na ponta de um de seus galhos como se fosse o mais leve passarinho.

Em Roma, quando ele se viu diante do Vigário de Cristo na Terra, entrou em êxtase, ficando suspenso no ar durante a audiência, até que o Superior lhe ordenasse em nome da obediência que voltasse a si."


Excerto de um artigo de Plinio Maria Solimeo, no site católico Lepanto, oferecido pela revista Catolicismo, e tendo como bibliografia:

1 - Frei Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones FAX, Madrid, 1945, 3ª edição, vol. III, p. 642.
2 - Les Petits Bollandistes, – Vies des Saints, d’après le Père Giry, par Mgr Paul Guérin, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo XI, p. 223.
3 Edelvives, O Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1955, tomo V, p. 184.
4 - Edelvives, op. cit., pp. 187-188.

Para os materialista é "óbvio" que S. Cupertino não levitava, como também é "óbvio" que Daniel Douglas Home (na imagem abaixo) não levitava. E escolhemos mencionar o fenómeno da levitação, dado que, pelas suas características, é por demais ostensivo para ser negado por quantos o presenciam. Ainda assim, os cépticos empedernidos assistiam e, à falta de explicações, concluíam que se tratava de fraude.


O Espiritismo vê os fenómenos medianímicos (também chamados supranormais, ou metapsíquicos, ou paranormais, tudo questão de palavras) como indício de algo mais profundo. E o facto de sempre ter havido fraudes grosseiras e tratantes sem escrúpulos não invalida que haja fenómenos legítimos.

O Espiritismo não é apenas o estudo destes fenómenos. Ainda que a investigação fenomenológica seja uma das áreas do Espiritismo, preferimos entregar aos cientistas a tarefa de o fazerem.

O que não aceitamos são as explicações simplistas da negação e da fraude, ou da intervenção diabólica. Desde logo porque não acreditamos no Diabo...


Não acreditamos no Diabo, porque:


- Admitir a existência de uma criatura que rivalizasse com Deus em poder, seria uma negação da omnipotência divina.


- Admitir que Deus pudesse permitir a acção de uma criatura ocupada em perder os Homens, seria blasfemar contra a infinita bondade de Deus.


- Admitir que Deus pudesse permitir sofrimentos eternos às mãos de tais criaturas, seria uma negação grosseira da sua justiça infinita.

Além destes argumentos racionais, e para os que acham que a Bíblia é a única medida da Verdade: o Diabo NUNCA é mencionado na Bíblia.

Na Bíblia faz-se referência à figura da serpente no Jardim do Éden, figura e cenário comuns, aliás, nos mitos de Criação de vários povos.

Na Bíblia faz-se referência à figura do monstro aquático Leviatã, do qual se pode dizer o mesmo, e situar a sua origem, com toda a segurança, na mitologia babilónica.

Os demónios que Jesus expulsava, são a tradução do Grego "daimon", ou Espírito. Eram portanto maus Espíritos que Jesus expulsava, e não seres perpetuamente destinados ao Mal. O mesmo se pode dizer da palavra "satã", do hebraico "stn", opositor. 

Este blogue disponibiliza vasta informação acerca desta problemática, na secção "Anjos e Demónios".


A figura conhecida como "o Diabo", com os seus cornichos, a barbicha, a cauda e a forquilha, é uma adaptação das mitologias Antigas, pré-cristãs, e dos deuses Pã e Lupércio, das mitologias Grega e Romana.


O deus Pã inspirou a figura do Diabo.

Há quem faça referência ao Apocalipse de João e aos alegados "anjos caídos" para fundamentar a crença na figura do Diabo. Um fundamento ainda mais vago, pois não se sabe se é a serpente, o leviatã, os anjos caídos da narrativa política de João, ou qualquer um dos maus Espíritos (daimon) que fazem a sua aparição nas Escrituras, sendo expulsos por Jesus ou aliciando-o, aquando do jejum no deserto.

A figura do Diabo, é, aliás, cada vez menos tomada à letra. Hades, o deus grego dos infernos, dos "lugares baixos" onde os falecidos habitavam e por vezes expiavam os seus maus actos, foi adaptado pela Igreja medieval, que carregou nas tintas e inventou os caldeirões dos suplícios eternos, para ferir as sensibilidades ainda bárbaras das populações e as sensibilizar para as consequências do mau proceder.

Na actualidade, tais visões afiguram-se pueris, mesmo para os representantes das Igrejas cristãs. João Paulo II, por exemplo, aboliu a figura do Diabo e do Inferno.

Numeroso teólogos católicos, protestantes e anglicanos, reflectem e escrevem acerca da Bíblia. Só os evangélicos neo-pentecostais insistem na inquestionabilidade da Bíblia, e a levam à letra. Não a estudam, não a analisam, acham supérfluo tudo o que não seja bíblico, e pecaminoso tudo o que vá contra a letra da Bíblia. Daí acreditarem cegamente ainda na criação do mundo em sete dias, fazendo tábua rasa das teorias evolucionistas de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace (espírita). Quando não da teoria heliocêntrica, pois, tal como no mundo muçulmano ainda há quem insista que a Terra é o centro do Universo, há meios neo-pentecostais que assim também afirmam!

O Espiritismo evita valorizar a letra, que mata, e valoriza o espírito, que vivifica.

A Bíblia (mais precisamente o Novo Testamento) é uma colecção de livros, de diversos autores, recolhidos ao longo de séculos, compilados, acrescentados e alterados. Tem valor desigual em termos morais e espirituais. Levar a Bíblia (mais precisamente o Novo Testamento) à letra, equivaleria a arrancar os olhos se estes nos fazem pecar ou odiar pai e mãe.
Mas se na Bíblia está ausente a figura do Diabo, não faltam relatos de fenómenos que a Psicologia ainda não explica, os tais fenómenos supranormais.

A aparição de Jesus em corpo etéreo após a morte é um bom exemplo. Tal como a sua conversa com os Espíritos de Moisés e Elias, no alto do Tabor. Há quem acredite que Moisés e Elias foram literalmente arrebatados aos céus, o que se nos afigura um tanto inconcebível, mas cada um tem a sua liberdade de pensamento...

Se Deus, através de Moisés, proibiu a CONSULTA dos mortos (o que o Espiritismo não faz) é porque os mortos se podem comunicar.

Moisés transforma o seu bastão em serpente, numa disputa com os magos egípcios. Moisés toca com o seu bastão numa rocha e da rocha brota água. Há sonhos premonitórios, e tantos outros fenómenos. Há até a proibição de contactar os mortos, promulgada por Moisés, uma evidência de que os mortos (e não os "demónios"), podem vir, ou não faria sentido Moisés proibir o seu povo de os consultar...

As aparições de anjos (para nós, espíritas, os anjos nada mais são do que Espíritos mais evoluídos que nós) também são um bom exemplo. Não nos passa pela cabeça que a justiça divina permitisse seres votados ao Mal (demónios), seres susceptíveis de queda (humanos) e seres já perfeitos (anjos)!

Para os grupos evangélicos neo-pentecostais, a figura do Diabo é como o pão para a boca. É o "papão" que vem a calhar para assustar os fiéis e alimentar o proselitismo dessas lucrativas instituições. Em muitas dessas religiões (serão religiões ou empresas?), fala-se mais do Diabo do que de Deus. Os líderes prometem limpezas dos maus-olhados e das bruxarias, realizam coreográficos exorcismos, com os seus gritos característicos de "Sai, satanás!", prometem o "desencapetamento total". Estes procedimentos parecem configurar a prática de simonia, veementemente condenada, na... Bíblia! E se não o fosse pela Bíblia, sê-lo-iam pelo senso comum.

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