quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Somos Espíritos - 10




Conclusão


Em meados do século XIX, uma vaga de inovações científicas e filosóficas tomava conta do mundo Ocidental. O Materialismo raiava, e parecia relegar a tradição religiosa para o campo das superstições sem sentido. 'O Capital', de Marx, e 'A Origem das Espécies', de Darwin, eram algumas das obras notáveis que viam a luz do dia e provocavam um terramoto no Pensamento universal.


A Religião, durante séculos, afirmara uma visão do mundo com o Céu em cima, morada dos bem-aventurados, e o Inferno, em baixo, morada dos eternos condenados. A Astronomia pulverizava esses conceitos, abrindo-nos as portas de um Universo infinito e provavelmente habitado.


A Religião declarara-nos descendentes directos de Adão e Eva. A Biologia demonstrava-nos parentes dos outros Primatas.


A Religião considerara literalmente sete dias da Criação bíblica. A Paleontologia provava terem havido Eras Geológicas.


A Religião inventara um Diabo, que com a permissão divina perseguia o ser humano e era o culpado dos seus sofrimentos. A Razão clamava a injustiça de tal concepção.


A Religião impusera jejuns, sacrifícios, rituais, como condição para a salvação da alma. A Razão questionava a sorte dos não baptizados e dos não cristãos, a existência do Purgatório, do Limbo, do Céu e do Inferno.


Muito mais contradições do que poderíamos enumerar num simples artigo agitavam o espírito crítico de pessoas que haviam deixado de estar sujeitas ao medo da Inquisição, ao medo de pensar, ao medo de questionar Deus como lho haviam apresentado.


Deus seria incompatível com a Ciência? O sentido de religiosidade seria apenas um resquício de primitivismo? A diferença entre Bem e Mal seria apenas uma convenção? Amar o próximo seria apenas um processo bioquímico?


De duas uma - ou existe o Reino dos Céus... ou não existe!


Não foi por essa altura que os fenómenos paranormais se iniciaram, mas foi nessa altura que pela primeira vez receberam a atenção de homens capazes de os investigar com método e de extrair deles conclusões profundas.


Fala-se das mesas girantes, mas não foram apenas esses fenómenos que chamaram a atenção de pensadores. Tornava-se claro que, por detrás das pancadas, das pranchetas escreventes, das mensagens recebidas por médiuns (muitos deles crianças), se manifestavam inteligências.


Allan Kardec foi pioneiro, entre os que se dispuseram descobrir quem eram essas inteligências. Determinou a veracidade dos fenómenos, e as suas investigações poderiam ter ficado por aí, caso estivesse interessado apenas no aspecto científico da questão. Interessava-lhe, contudo, saber o que tinham a dizer essas inteligências sem corpo material.

Interrogou-as, e estas responderam ser pessoas como nós, que viveram na Terra.
 
 
Para os materialistas, os fenómenos devem-se a qualquer tipo de telepatia, a qualquer fenómeno ainda desconhecido, mas não admitem que possam ser Espíritos a comunicar-se. Para os religiosos, é simples: são apenas demónios que se disfarçam de Espíritos, pois, no entender dos religiosos, Deus permite que os demónios venham, mas não permite que os Espíritos venham. Opiniões...


Allan Kardec interrogou os Espíritos através de centenas de médiuns espalhados por todo o mundo. As mesmas perguntas eram enviadas para todo o globo, e, na volta do correio, as respostas eram concordantes. Com as perguntas e as respostas, mais os seus comentários, Allan Kardec editou, entre outras, as seguintes obras:


O Livro dos Espíritos - 1019 perguntas aos Espíritos e as respectivas respostas e comentários. A obra central da filosofia espírita.


O Livro dos Médiuns - um ensaio completo sobre as comunicações com o mundo dos Espíritos.


O Evangelho Segundo o Espiritismo - subtitulado "Com a explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida".


O Céu e o Inferno - "ou A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO, Exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, sobre as penalidades e recompensas futuras, sobre os anjos e demónios, sobre as penas, etc., seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte."


A Génese - subtitulado "A Doutrina Espírita há resultado do ensino colectivo e concordante dos Espíritos. A Ciência é chamada a constituir a Génese de acordo com as leis da Natureza. Deus prova a sua grandeza e seu poder pela imutabilidade das suas leis e não pela derrogação delas. Para Deus, o passado e o futuro são o presente."


Um conjunto de princípios é uma doutrina. Uma doutrina que foi transmitida pelos Espíritos só podia chamar-se Espiritismo. Um nome bonito, aliás, que evoca a esperança (para nós a certeza) de que a vida continua, e que a morte é apenas uma passagem.


O ESPIRITISMO MATOU A MORTE

 

Fé inabalável só é a que pode encarar frente a frente a razão,em todas as épocas da Humanidade - é uma divisa do Espiritismo.


A fé deixou então de ser uma questão de "temer" ou de "aceitar" e passou a ser uma questão de raciocinar.


O Espiritismo, ou doutrina dos Espíritos, não pretende substituir religiões ou filosofias, até porque não se considera dono da Verdade, nem considera os outros desprovidos desta.


O Espiritismo marcha a par da Ciência, mas não se detém onde esta se detém, como disse Allan Kardec.


O Espiritismo investigou a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, mas colheu deles ensinamentos que constituem uma Filosofia, porque são uma proposta de interpretação da Vida e do Universo; uma explicação para os sofrimentos e para as aparentes injustiças deste mundo.


O Espiritismo resulta também numa Moral, expressa na obra 'O Evangelho Segundo o Espiritismo'.


Por isso o Espiritismo é uma doutrina tríplice:
 
- Da Ciência colhe o método, e recusa crer no que quer que seja que a Ciência demonstre estar errado.
 
 
- Como Filosofia, responde às clássicas questões sobre quem somos, de onde vimos e para onde vamos; e aproxima-nos das Leis Divinas, já enunciadas por Moisés e por Jesus.
 
 
- Como Moral, aponta-nos o caminho do Bem, o do amor incondicional a Deus e ao próximo.


Tal como Jesus de Nazaré anunciou que não veio para destruir a Lei, também a filosofia espírita anuncia que não o veio fazer. A única coisa se propõe fazer, é ajudar a Razão a romper as trevas da superstição, do medo e do materialismo.


É isto que o Espiritismo vem esclarecer: que somos Espíritos; temporariamente no mundo material.



15.7.09


Nota: Esta série de 10 posts foi escrita para esclarecimento de uma conhecida e entusiástica evangélica neo-pentecostal, que, durante mais de um ano, não parou de assediar o nosso blog, ameaçando-nos com o tormento eterno nas fornalhas do Satanás e exigindo um espaço (no nosso blog!)  para  colar os textos anti-espíritas que copia dos sites neo-pentecostais. A sua avaliação foi que tudo o que escrevemos "é só blá-blá-blá". A Natureza não dá saltos...

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