terça-feira, 1 de novembro de 2016

A Prece - 1


É geralmente aceite que o Povo Hebreu, durante a fuga do Egipto em direcção à Terra Prometida, se tornou a primeira comunidade monoteísta da História. Segundo a narrativa bíblica, Moisés recebeu de Deus, junto ao Monte Sinai, as tábuas contendo os Dez Mandamentos.

Salvo diferenças de tradução, e divisões adoptadas pelas diferentes religiões, o Primeiro Mandamento era:

Eu sou YHWH, teu Deus [Jeová], que te fiz sair da terra do Egipto, da casa dos escravos. Não terás outros deuses em desafio a Mim [o Deus de Abraão]. Não farás imagem esculpida [em hebraico péshel, referindo-se a ídolos], nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não adora-las-á, nem prestar-lhes-á culto, por que eu, YHWH, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige devoção exclusiva"; em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e que puno o erro dos pais nos filhos na terceira geração e na quarta geração dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com até a milésima geração dos que me amam e que guardam os meus mandamentos.

Com base nestes mandamentos, ergueu-se uma religião, cerca de 1800 séculos antes da era cristã, que perdura até aos dias de hoje. A par com o Judaísmo popular, a Kabbalah, assente nos mesmos princípios, investiga a natureza de Deus e do Universo, procurando esclarecimentos mais amplos sobre a Vida.

Numa época tão recuada, entre um povo ainda rude e rebelde, em fuga do cativeiro egípcio e já bastante aculturado a essa Sociedade, compreende-se a aparente severidade do Primeiro Mandamento, e as disposições ritualísticas supostamente ordenadas por Deus. 
Prestar culto ao Deus Único era então algo de completamente revolucionário, a somar ao arrojo da aventura do Êxodo Bíblico. A severidade era então condição essencial para manter a ordem. O Povo não estava preparado para entender o conceito de um Deus de Amor. Lembremos que quando Moisés voltou para junto do seu Povo, trazendo as tábuas da Lei, os Hebreus haviam esculpido um ídolo e o adoravam, à maneira dos egípcios. Ou pelo menos assim narra a Bíblia, havendo opiniões que defendem a coexistência da macro-narrativa histórica e de micro-narrativas simbólicas na Bíblia.
(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.