É geralmente aceite que o Povo Hebreu, durante a
fuga do Egipto em direcção à Terra Prometida, se tornou a primeira
comunidade monoteísta da História. Segundo a narrativa bíblica, Moisés
recebeu de Deus, junto ao Monte Sinai, as tábuas contendo os Dez
Mandamentos.
Salvo diferenças de tradução, e divisões adoptadas pelas diferentes religiões, o Primeiro Mandamento era:
Eu sou YHWH, teu Deus [Jeová], que te fiz sair da terra do Egipto, da casa dos escravos. Não terás outros deuses em desafio a Mim [o Deus de Abraão]. Não farás imagem esculpida [em hebraico péshel, referindo-se a ídolos], nem
semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra,
nem nas águas debaixo da terra. Não adora-las-á, nem prestar-lhes-á
culto, por que eu, YHWH, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige devoção exclusiva"; em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e
que puno o erro dos pais nos filhos na terceira geração e na quarta
geração dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com até a
milésima geração dos que me amam e que guardam os meus mandamentos.
Com
base nestes mandamentos, ergueu-se uma religião, cerca de 1800 séculos
antes da era cristã, que perdura até aos dias de hoje. A par com o Judaísmo
popular, a Kabbalah, assente nos mesmos princípios, investiga a natureza
de Deus e do Universo, procurando esclarecimentos mais amplos sobre a
Vida.
Numa
época tão recuada, entre um povo ainda rude e rebelde, em fuga do
cativeiro egípcio e já bastante aculturado a essa Sociedade,
compreende-se a aparente severidade do Primeiro Mandamento, e as
disposições ritualísticas supostamente ordenadas por Deus.
Prestar culto
ao Deus Único era então algo de completamente revolucionário, a somar
ao arrojo da aventura do Êxodo Bíblico. A severidade era então condição
essencial para manter a ordem. O Povo não estava preparado para entender
o conceito de um Deus de Amor. Lembremos que quando Moisés voltou para
junto do seu Povo, trazendo as tábuas da Lei, os Hebreus haviam
esculpido um ídolo e o adoravam, à maneira dos egípcios. Ou pelo menos assim narra a Bíblia, havendo opiniões que defendem a coexistência da macro-narrativa histórica e de micro-narrativas simbólicas na Bíblia.
(continua)
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