O endurecimento do regime autoritário de Salazar restringiu todo o tipo de liberdades em Portugal. A pouco e pouco, não apenas o Espiritismo, mas outras ideias filosóficas, bem como as religiosas e políticas, foram sendo progressivamente caladas, e os seus partidários vigiados e perseguidos.
A lendária ignorância dos elementos da polícia política do regime, P.I.D.E. (Polícia Internacional de Defesa do Estado), levava, por exemplo, a que incomodassem proprietários de livros sobre o compositor Bach, supondo que se tratava de algo relacionado com a Fé Bahà'i...
O encerramento da F.E.P. não aconteceu de um dia para o outro. Inflamados pelo clima de pensamento único que então vigorava, algumas pessoas ignorantes e preconceituosas, apressavam-se a atacar o que desconheciam... mas que reconheciam ser diferente da religião oficial do regime.
A Rádio Renascença, em Abril de 1952, deu o mote, afirmando numa das suas emissões a partir da cidade do Porto, que nos trabalhos experimentais do Espiritismo compareciam apenas os "demónios", os "anjos caídos" da Teologia católica. Aos espíritas, classificou como "exaltados".
Como sempre acontece neste tipo de ataques, à Teologia das religiões que crêem nos "demónios", vêm colar-se as depoimentos de cunho "científico" Foi o caso de Egas Moniz (na imagem), o médico português que ganhou o Prémio Nobel, um fiel adepto do regime de Salazar, de cujas opiniões se serviu o jornal católico "Novidades", para publicar o artigo "O Espiritismo Concorre Para a Expansão da Loucura".
Egas Moniz foi um médico ultra conservador, partidário de "tratamentos" por choques eléctricos, defensor das lobotomias, e teórico de que todos os comportamentos diferentes do ideal do Estado Novo eram doenças.
O mês de Abril de 1953 foi de investida cerrada contra o Espiritismo. O artigo que usa a opinião de Egas Moniz é uma antologia de caciquismo feroz e de má-fé.
Começa o articulista C. Maia (o protagonista principal da campanha do jornal "Novidades"), por afirmar que a Doutrina Espírita é uma criação da maçonaria e que Allan Kardec pertenceu à Maçonaria. Duas puras mentiras, que, de entrada, servem para o autor "arrumar" o Espiritismo 'como doutrina e como "religião"', nas suas palavras.
Pelas aspas colocadas na "religião" se verifica logo onde estava o problema: o temor de alguma beliscadura na religião oficial...
Depois, o articulista passa à segunda parte do seu panfleto: "arrumar" o Espiritismo como ciência. Melhor dito, passa a negar a possibilidade das comunicações com o Além, catalogando-as todas como fraude. Todo o teor do artigo, no que à parte científica do Espiritismo diz respeito, é de uma ignorância e má-fé confrangedoras.
O combate aos fenómenos espíritas pelos sistemas da negação e da fraude (já analisados por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns"), é tudo quanto se pode extrair do lamentável artigo, que apresenta a "confissão" das Irmãs Fox em relação aos fenómenos mediúnicos como "prova inequívoca" de que os fenómenos espíritas não existem...
Nada de novo, portanto, do sector materialista-religioso que se opõe ao Espiritismo. Nos dias de hoje, à falta de melhor, continua-se a brandir a "confissão" das Irmãs Fox, obtida entre ameaças e subornos da hierarquia católica norte-americana, esquecendo a retractação pública que ocorreu no ano seguinte, esquecendo os milhares de testemunhas dos fenómenos obtidos pela mediunidade das Irmãs Fox, e esquecendo todos os testemunhos e os estudos provenientes das mais diversas fontes.
C. Maia considera, por breves instantes, a possibilidade de ser o Diabo o autor da fenomenologia mediúnica - uma explicação assaz sensata e "científica", aliás...
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