segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Problemas de Ontem e de Hoje

 
A António Joaquim Freire, os espíritas portugueses devem muito do desbravar das primeiras dificuldades para dar à Doutrina Espírita o direito de cidadania que possui, ainda que a ignorância continue, a cada passo, a embaraçar-lhe o caminho.

Na revista Fraternidade, segundo pesquisa de Manuela Vasconcelos, compilada na obra "M.E.P. - Movimento Espírita Português", o nosso irmão de ideal e co-fundador da Federação Espírita Portuguesa dá conta das mil e uma andanças e obstáculos que encontrou nessa fase difícil, mas também apaixonante, do estabelecimento do Espiritismo em Portugal.

Transcrevemos breve mas elucidativa passagem:

"(...) foi, precisamente, nessa época, que a acção policial se estava exercendo intensivamente na repressão das cartomantes, magnetizadores, médiuns-curadores, etc., que infestam Lisboa, rotulando-se espíritas, abusiva e indecorosamente, ludibriando os incautos, prestando-se a confusões lamentáveis de que muito se tem ressentido o Espiritismo entre nós, e de que a Federação Espírita Portuguesa se ocupará, certamente, muito em breve, pois já no 1º Congresso Espírita Português foi abordado este abuso inqualificável de gananciosos sem escrúpulos, que precisa ser definido com urgência e clareza, para dignificação do Espiritismo."
 
A atmosfera não era, pois, propícia à aprovação dos Estatutos, e, até certo ponto, com justificados motivos.
 
Qualquer pressão neste sentido teria sido contraproducente, tal é a crassa ignorância sobre assuntos desta natureza que reina nas regiões oficiais, essencialmente negativistas com raras excepções."

Só quem não tenha alguma vez tentado legalizar uma associação espírita em Portugal não deixará de se rever neste relato...

Quanto ao estigma da confusão entre Espiritismo - filosofia cristã e movimento cultural - com formas de comércio da mediunidade, indústrias da adivinhação e curandeirismo, aí alcançaram-se alguns progressos.
 
Os esforços abnegados de muitos espíritas e muitas associações e federações, e dez anos de existência da Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, com uma presença constante nos media, uma divulgação sistemática na Internet, um jornal, e uma denúncia sistemática de todos os abusos conhecidos, surtiram algum efeito. Hoje, graças à acção da ADEP, os vendedores de milagres e prodígios já pensam duas vezes antes de adicionarem à lista dos seus supostos atributos a palavra "espírita".
O tema é vasto, e tem sido profusamente abordado nestas páginas. Em traços gerais, recordamos que nada temos, por exemplo, contra alguém que se proponha lançar cartas ou traçar mapas astrais, contactar os mortos ou vender talismãs.

Em primeiro lugar, e pelo que directamente nos diz respeito, desejamos que essas pessoas não tentem embelezar a lista dos seus títulos com o de "espírita", pois o Espiritismo não se dedica a tais práticas, e muito menos entra em cobranças ou negócios de qualquer espécie.

Em segundo lugar - e isso não é connosco, mas com as autoridades oficiais - achamos que tais profissões devem ser regulamentadas, para segurança dos clientes e dignificação dos praticantes sérios de tais artes.

Na imagem: o IV Salão Automóvel (1º em Lisboa), em 1925, ano em que a se iniciou o processo de redacção e aprovação dos Estatutos da F.E.P..

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