A TVI e o programa da encantadora Fátima Lopes, "A Tarde é Sua", dedicaram uma emissão a esclarecer o público sobre o mal compreendido fenómeno do eclodir da mediunidade.
Vimoa a primeira convidada, uma rapariga a quem a Medicina não conseguiu determinar a causa de muito mal-estar e muito sofrimento. O que não é para admirar, pois a Medicina que temos ainda considera o Homem como corpo, apenas. Ora se nós somos corpo e Espírito, o que não tem causa no corpo passa ao lado da maior parte dos médicos.
Como
é habitual nesses casos, a rapariga e o dedicado namorado correram os
médiuns comerciantes em busca do alívio para o "cofre aberto".
(Fazemos
aqui um parêntesis para lembrar que temos neste blog já 14 artigos
sobre o chamado "cofre aberto", aos quais pode aceder clicando aqui)
Partiu-se-nos
o coração o relato da crueldade dos "vendedores de milagres",
que exigiram avultadas quantias aos dois jovens, em troca de uma
prometida libertação. "Ou me pagas 350 euros ou ela morre", terá dito um deles, se bem entendi. Triste, muito triste...
Terão
então andado a pagar por promessas vãs. Gastaram o dinheiro que lhes
custou a ganhar e ficaram na mesma, desenganados e traídos!
Lembrá-mo-nos inevitavelmente do episódio bíblico de Simão, o Mago, que queria comprar aos Apóstolos de Jesus o dom de curar e de expulsar demónios. Esse Simão o Mago foi severamente repreendido pelo Apóstolo Pedro, que por sua vez tinha sido instruído por Jesus para dar de graça o que de graça recebeu.
Desde
sempre existiram, e existem em todos os cantos do mundo, pessoas
dotadas de capacidades paranormais. Em Portugal são ainda conhecidas por
"mulheres de virtude", as senhoras que desde há milhares de anos
receitam o chazinho de ervas, "endireitam o bucho" aos meninos,
encaminham os Espíritos maus. Não é a essas que nos referimos. Essas, se
aceitam dinheiro, fazem-no de boa-fé. O homem que anda a trabalhar na
fazenda, a quem vão chamar para endireitar o braço de uma pessoa que o
deslocou, e aceita uma pequena gratificação pelo seu dom de "endireita",
também não é a esse que nos referimos.
Não
é o astrólogo, ao cartomante, o lançador de búzios, o quiromante, o
praticante honesto das chamadas "artes de adivinhação", sobre as quais
nada entendemos e não temos por isso autoridade moral para nos
pronunciarmos. Quem se dedica com honestidade a essas áreas, tem um
preçário, tanto quanto sabemos. Quem crê em Astrologia e manda vir um
mapa astral emoldurado, pelo Correio, paga um artigo que voluntariamente
quis comprar. Não é portanto a essas pessoas que nos referimos.
Não
é o padre, o pastor protestante, o sacerdote de qualquer religião, que
todas elas têm as suas abordagens destes casos - e que muito
respeitamos. Os padres e os pastores protestantes, dignos e honestos,
não prometem miragens nem exploram quem sofre. Fazem o que está de
acordo com as suas convicções, e se porventura cobram alguma coisa, não
arruínam as pessoas, com toda a a certeza. Não é esses também que nos
referimos.
Referimo-nos
a quem tem banca montada, e se dedica a prometer aos aflitos coisas que
não pode cumprir. Hoje um defumadouro, amanhã umas velas, depois uns
amuletos, mais tarde uns banhos de descarga, a promessa de uns rituais, a
promessa de "cura" sempre adiada... e que nunca se cumpre!
Alguns
dizem que trabalham gratuitamente, mas (coitados...) têm que cobrar
dinheiro pelos materiais de que necessitam para fazer os tais rituais
"libertadores". Como os tais rituais costumam incluir o sacrifício de um
rebanho de cabras inteiro (valha-nos Deus!), facilmente se imagina o
dano que causam na carteira e na saúde de quem os procura.
Falamos
de pessoas que sabem perfeitamente que nada conseguem, mas que não têm
escrúpulos em se aproveitarem do desespero e do sofrimento de quem os
procura, em último recurso. Conforme relatou o namorado da
rapariga, quando o cliente se farta e começa a exigir resultados, os
magos de vão de escada deixam de atender o telefone, e viram as costas
àqueles a quem prometeram mundos e fundos.
Entendemos que é dever moral aconselhar as pessoas a
confiarem no seu líder espiritual (seja ele um padre, um pastor ou
outro), a confiarem no seu médico, eventualmente a confiarem no seu
centro espírita, e a terem muito cuidado para não caírem no "conto do
vigário".
Há
sempre esperança para quem sofre. E a esperança está acima de tudo em
Deus - não nas mãos dos que praticam a simonia, o comércio de coisas que
merecem respeito especial, das coisas da alma. Cuidado, pois, com os
charlatães!

Já perdemos a conta das pessoas que viram o programa e resolveram dar um passo longamente protelado ou que desconheciam que podia ser dado: aproximarem-se de uma instituição espírita.
Foram muitos os telefonemas, as abordagens na rua, as cartas e as mensagens electrónicas dirigidas à associação espírita onde colaboramos.
Achamo-nos como que num hiato, em termos históricos. Durante milhares de anos, as pessoas tinham uma ideia difusa de que os Espíritos dos mortos sobreviviam à aniquilação do corpo físico. Desde os tempos das cavernas que a relação entre o mundo espiritual e o mundo material faz parte do dia-a-dia.
Ainda hoje podemos observar essa relação, nas sociedades tribais. Não se conhece nenhuma nação tribal que não tenha como dado adquirido que existe um mundo espiritual que continuamente se sobrepõe ao mundo material e com ele estabelece relações.
Os xamãs - pessoas dotadas de mediunidade ostensiva e que põem as suas faculdades ao serviço da comunidade - colmatam nesses povos a ausência de facilidades como a Medicina. Por isso, se alguém adoece, são eles que entram em transe e interrogam os Espíritos sobre o tratamento adequado. São eles que aconselham os líderes e são eles que encaminham os Espíritos que teimam em incomodar os vivos.
Os xamãs não são exclusivo de povos tribais. Encontramo-los, com outros nomes, em todas as Sociedades. Longe das grandes cidades, as pessoas admitem com naturalidade que procuram um curandeiro ou uma mulher de virtude para curar um mal físico que os médicos não conseguem determinar, ou para afastar um mau Espírito que anda a arreliá-las.
Durante a Idade Média, na Europa, as religiões predominantes moveram uma caça impiedosa a essas pessoas, apelidando-as de diabólicas. Muitas foram queimadas nas fogueiras da Inquisição, após vidas longas de bons e leais serviços à comunidade. A maior parte anónimos, alguns famosos. Joana D'Arc, a donzela heroína que guiou os exércitos franceses, recebia as suas instruções das "vozes" que ouvia. Após a vitória da França, o clero (sempre cioso do seu papel exclusivo de intermediário entre Deus e os Homens), mandou queimar viva Joana D'Arc. Porque chegou à conclusão de que era o Diabo que lhe falava. Mais tarde achou que afinal era Deus, e elevou-a aos altares.
Joana D'Arc, como tantas pessoas, não falava com o Diabo nem com Deus. Joana D'Arc possuía em elevado grau a faculdade mediúnica.
Mas o advento da Razão, o Século das Luzes, o progresso das Ciências, nem por isso vieram tornar mais compreendidas pessoas como Joana D'Arc. Relegando para o campo da fábula tudo o que não pudesse ser pesado, medido, visto ao microscópio ou ao telescópio, a mentalidade materialista passou a classificar pessoas como Joana D'Arc como loucas.
E esse é um dos dramas dos que vêem, ouvem, ou sentem de alguma forma o mundo espiritual. Estão entre dois fogos. Por um lado, as pessoas fogem deles, achando-os suspeitos de coisas "sombrias". Por outro, consideram-nos malucos e enchem-nos de sedativos, procurando fazê-los crer que as experiências que vivem são fruto da imaginação. Como se alguém se pudesse comprazer em tal coisa, que tantos problemas lhe traz, dada a incompreensão que existe.
Os
aventureiros e oportunistas sem escrúpulos, têm na mediunidade
descontrolada um a verdadeira mina de ouro. Diagnosticar "cofres
abertos" e receitar quinquilharias para os "fechar" é um negócio
apetecível para quem é desprovido de consciência. Defumadouros, velas,
banhos de descarga, novenas, rezas especiais, amuletos, fricções no
corpo, mais as consultas e as limpezas de auras, e um sem número de
produtos fantasistas e terapias absurdas, são aplicados sem qualquer
espécie de êxito.
Quem é burlado está demasiado devastado pelo desapontamento, e tolhido pela vergonha. Não reage. Só quer esquecer. Só quer curar-se. Porque julga estar doente.
Quem é burlado está demasiado devastado pelo desapontamento, e tolhido pela vergonha. Não reage. Só quer esquecer. Só quer curar-se. Porque julga estar doente.
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