Dale Carnegie e a Fé



Mais de 60 milhões de cópias e tradução em 38 idiomas é uma marca de que poucos autores se podem gabar ter atingido. Dale Carnegie, nascido nos Estados Unidos em 1888, numa região pobre do estado do Missouri, tentou a sua sorte em áreas tão diversas como o teatro, a escrita de novelas, ou a gestão de uma mercearia. Seria no área da auto-ajuda, do aconselhamento, auto-melhoramento e treino de pessoal que Dale Carnegie se tornaria famoso. Os cursos Dale Carnegie iniciaram-se em 1912 e constituíram uma iniciativa pioneira. Ainda hoje, os livros escritos por Dale Carnegie, numa linguagem simples e directa, plenos de exemplos, na boa tradição anglófona, são dos mais lidos no mundo.

A obra "Como Evitar Preocupações e Começar a Viver". Pode não funcionar para todas as pessoas, e nem todas as pessoas terão auto-disciplina para por em prática as estratégias anti-preocupações, mas ainda assim esta obra é um verdadeiro tratado de bom-senso. Manter a secretária arrumada, escrever as preocupações para melhor as avaliar, não sofrer por antecipação, não ser lamuriento, ser organizado, não gastar acima do orçamento de que se dispõe, são conselhos aparentemente pueris, mas muito úteis... 

Um capítulo deste livro chamou-nos especialmente a atenção. Na quinta parte do seu livro, capítulo XIX, Carnegie fala acerca das enormes dificuldades financeiras que os seus pais passaram, quando criança, e aponta o exemplo da fé inquebrantável da sua mãe, que evocava a paz nas suas orações, mesmo nos piores momentos. Conta que com o passar dos anos, as suas indagações filosóficas o tornaram num céptico empedernido, que zombava da ideia de um Deus benévolo. Até que novas indagações o trouxeram de novo à religião, ou, como explica, a um novo conceito de religião.

"Não sinto o menor interesse pelas diferenças de credos que separam as igrejas. Mas interesso-me profundamente pelo que a religião fez por mim" - confessa.

Este autor afirma que a psiquiatria ensina o que Jesus ensinava: que a prece e a profunda fé religiosa extinguem ou diminuem as preocupações e ansiedades, as tensões e os receios que causam mais de metade das nossas enfermidades.

Será isto a apologia da fé religiosa como entorpecente, o famoso "ópio do povo"?

Entre outras citações, merece destaque a de Francis Bacon:

"Um pouco de filosofia inclina o espírito humano ao ateísmo; mas uma profunda filosofia conduz as mentes humanas à religião".

25.7.2009