segunda-feira, 16 de maio de 2016

Catolicismo - Céu, Inferno e Purgatório

Em crónica recente, o escritor José Reis Chaves, teólogo e biblista brasileiro, afirmava haver "pessoas que, dentro duma mesma religião, estão décadas, séculos e até milénios à frente de seus colegas de mesma crença." É com muita satisfação que acompanhamos a evolução da visão católica sobre a Justiça Divina. Os diabos e os infernos, os caldeirões ferventes e os fogos eternos, no sentido literal, já não são desta época. Já não assustam ninguém, e, pelo contrário, até provocam repulsa em quem sabe pensar, pela brutalidade e injustiça dos conceitos.

Há 150 anos, com a publicação de "O Céu e o Inferno", uma das cinco obras que constituem a Doutrina Espírita, Allan Kardec dava a conhecer o "Céu", o "Inferno" e o "Purgatório", precisamente como estados de maior ou menor felicidade em que se encontram os que deixam este mundo, segundo a narrativa dos próprios. Nesta entrevista, que traduzimos o melhor que sabemos, podemos testemunhar como a concepção católica, inicialmente hostil à nossa, dela se vai aproximando:


 
 
 
Torres Queiruga: "O Inferno e o Paraíso não são lugares, são processos espirituais."
 
La Opinión

"A definição de purgatório feita pelo papa não é novidade. Não tem cabimento uma descrição de uma geografia espiritual. O Purgatório é um fogo interior".

Assegura que a definição de Pugatório feita pelo papa não é novidade, mas que é parte do "senso comum teológico" desde há anos, e que uma situação similar ocorre com outros termos da tradição católica, tais como o Inferno e o Paraíso. A prova disso são análises anteriores feitas pelo teólogo corunhês Andrés Torres Queiruga, na sua obra intitulada "Que queremos dizer quando dizemos Inferno?".

 


- As palavras recentes de Benedito XVI representam uma mudança no conceito de Purgatório da Igreja?


- Não. A única coisa que demonstram é a ignorância teológica em que vive a nossa Sociedade actual, pois afirmar que o Purgatório não é um lugar físico, faz parte do conhecimento comum teológico desde há anos.

- Em que consiste então o Purgatório?

- Trata-se de um processo espiritual interno. É lógico pensar-se que, dado que ninguém morre sendo totalmente bom, haja uma espécie de conversão e purificação no encontro com Deus.

- As representações tradicionais deste conceito religioso geraram na população um entendimento errado do mesmo?

- Sim, e o facto de as pregações não estarem muito actualizadas neste sentido, também contribui para que a população desconheça o verdadeiro significado do Purgatório. Neste sentido, também há que dizer que as palavras do Papa são positivas, porque ajudam a que os católicos compreendam que o objectivo não é convencer Deus a purificar-nos dos nossos pecados, para que seja bom e nos livre das penas do Purgatório. O fundamental é alimentar a nossa fé e a nossa esperança de que o encontro com Deus seja para todos a salvação definitiva.

- Existe a mesma confusão com o Inferno e o Paraíso?


- Sim. Tanto o Inferno como o Paraíso são questões que ultrapassam o espaço e o tempo, e portanto não há que fazer uma descrição física de uma geografia celestial. Esses termos aludem a processos espirituais que intuímos, à luz das experiências reais que vivemos na nossa vida presente e que tratamos de expressar com símbolos que fortaleçam a nossa esperança. 

 
 

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