
Eram já umas nove e meia da noite e eu ainda estava
a trabalhar. A senhora que vinha fazer a limpeza abriu a porta do
gabinete e ficou surpreendida por ainda haver gente no edifício.
- Eu já vou embora, já a deixo trabalhar - gracejei, enquanto vestia o casaco e me preparava para sair.
- Este trabalho é muito solitário, mas a pior altura do ano para o fazer é esta - desabafou ela apontando para as decorações natalícias.
- Eu já vou embora, já a deixo trabalhar - gracejei, enquanto vestia o casaco e me preparava para sair.
- Este trabalho é muito solitário, mas a pior altura do ano para o fazer é esta - desabafou ela apontando para as decorações natalícias.
- Uma pessoa neste silêncio durante horas, pensa muita coisa. Há árvores de Natal e luzes a brilhar, mas as pessoas continuam a não pensar em quem passa necessidades, em quem está sozinho, em quem sofre. E parece que ainda custa mais quando resolvem pôr de parte a antipatia habitual nesta época, porque aí a gente vê que eram capazes de o fazer todo o ano.
- Havemos todos de conseguir, D. Natália - disse eu - se não for nesta vida será na próxima...
Aí ela lembrou-se de que sou espírita e sorriu.
Enquanto cruzava as ruas em direcção a casa não pude deixar de sentir o contraste entre o aparato decorativo, e os dramas que se vivem neste nosso mundo ainda tão imperfeito. Os pais-natais mecânicos nas lojas tornaram-se um símbolo instantâneo da superficialidade com que atravessamos esta época. Uma gigantesca operação comercial, é o que o Natal se tornou. Um gigantesco incómodo de presentes, mensagens, compras, decorações, viagens e obrigações.
Não admira que a D. Natália só sossegue, como me confessou, a seguir ao Natal. Uma sensibilidade apurada como a dela sente estas contradições como farpas.
Mas não será sempre assim.
9.12.07
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