sábado, 14 de maio de 2016

Não existe nenhum "cofre aberto". Nem fechado.




Costumamos dizer que há duas portas de entrada no Espiritismo: a do sofrimento e a do conhecimento. Há quem se interesse pela doutrina espírita pelo interesse pelo Saber, e há - na maioria dos casos - os que chegam em busca de auxílio.

Uma das situações típicas é o eclodir da mediunidade. A mediunidade é a faculdade de percepcionar o mundo espiritual ou de agir sob sua influência (ver os Espíritos, ouvi-los, escrever ou falar por influência destes).

Raras são as pessoas que estão preparadas para a eclosão da mediunidade, também chamada percepção extra-sensorial. O fenómeno costuma fazer-se anunciar por sensações como a de não se estar sozinho, a cabeça "a crescer", estômago inchado, mudanças súbitas de humor, e a seguir pode eclodir de facto a mediunidade, nas suas múltiplas variantes e combinações.

Raramente as pessoas chegam ao centro espírita sem terem tentado antes outros meios de se "verem livres" do que se lhes afigura assustador. Os médicos, na sua maioria ainda desconhecedores do assunto, tomam a situação por uma doença do foro psiquiátrico. Os sacerdotes, igualmente cheios de boa-vontade, benzem a pessoa, na esperança de que o "demónio" se vá embora. Mas nem a "doença" se cura - porque não há doença - nem o "demónio" se vai embora - porque não há demónio nenhum.

Segue-se habitualmente a clássica visita a "uma senhora" ou "um senhor", que diagnosticam invariavelmente o "cofre-aberto"! Sendo uma pessoa bem intencionada, tentará umas rezas e benzeduras, uns defumadouros, mandará a pessoa a um santuário pôr velas, rezar uma novena, andar com um terço ao pescoço, ouvir umas tantas missas, e prescreverá o uso de um amuleto qualquer.

Se for uma pessoa menos bem intencionada, a prescrição é igual, mas será paga a peso de ouro e acrescida de umas quantas novidades que o marketing acrescentou aos velhos processos: uns "banhos de descarga", umas "limpezas espirituais", uns pozinhos para usar nas algibeiras (que entretanto vão ficando mais vazias)...




Popularmente conhecido como "cofre aberto", ou "morada aberta", o despertar da faculdade mediúnica pode produzir desconforto, e, sobretudo, receio do desconhecido. 
 
As "técnicas" que citámos de lidar com o problema (as rezas, as velinhas, etc....) são um expediente que vem dos tempos antigos, em que a magia estava muito presente no quotidiano. Actualmente a Ciência olha para esse fenómeno de forma diferente. Os preconceitos religiosos já não mandam matar em fogueiras pessoas portadoras dessa faculdade (veja-se o caso de Joana D'Arc), e os preconceitos científicos já não mandam encerrá-las em hospícios.

Charles Richet, Prémio Nobel da Medicina em 1913, admitia a mediunidade, e logicamente a existência dos Espíritos.

A Parapsicologia vem desde há décadas estudando os fenómenos que estão para além das leis científicas conhecidas, e admite a faculdade humana de captar a influência de inteligências extra corpóreos (vulgo Espíritos).

Mais recentemente, um novo ramo da Psicologia, a Psicologia Transpessoal, na esteira do trabalho do grande investigador Carl Gustav Jung, tem desenvolvido trabalhos de grande profundidade nessa área.
A mediunidade é aceite pela Organização Mundial de Saúde, e deixou de ser considerada um transtorno psicológico.

A mediunidade é uma faculdade natural. Não tem nada de misterioso, de assustador ou sobrenatural.

Quando eclode, a mediunidade pode acarretar transtornos, mas também a capacidade de ouvir nos faz ouvir sons desagradáveis, e nem por isso consideramos esse sentido como "mau". Ora a mediunidade é um sexto sentido, cujo estudo ainda está no início.

Amparar a pessoa que chega com sinais de mediunidade é uma das tarefas do centro espírita, que se inicia no atendimento. Há actualmente médicos que, a par com a psicoterapia, aconselham os pacientes a frequentar um centro espírita idóneo, para que se esclareçam.
O Espiritismo não é uma religião, e ninguém cria laços ou obrigações por frequentar um centro espírita. Quem decide fazê-lo, decide-o em consciência, pois o Espiritismo é cultura, e o Saber não ocupa lugar.

Tão pouco o Espiritismo reivindica para si "atributos" especiais para lidar com estes casos! A prova disso é que tudo o que sabemos a esse respeito é divulgado e partilhado - em livros, na Internet, em palestras - e muito nos congratulamos por a Ciência se dedicar cada vez mais ao estudo da mediunidade. 
 

"olá... eu penso ter a "morada aberta", pelo menos tenho a sensação disso pois sem estar a pensar em nada oiço vozes dentro de mim que me dizem coisas que aconteceram ou estão para acontecer. Isso às vezes angustia-me pois a ultima informação que obtive dessa dita voz foi que o meu pai poderá vir a falecer num acidente de viação. Também senti essa voz quando visitei a casa da tia do meu namorado cuja filha faleceu e que me informou (sem eu conhecer a casa) onde era o quarto dela. E ultimamente estando sozinha em casa e sem tocar na arvore e no pc as luzes de Natal começaram a tocar (a arvore estava no rés-do-chão e eu no primeiro andar), e uma vez sai do meu quarto (primeiro andar) e fui para a sala, desliguei o que estava a fazer no pc e quando a minha mãe vai jogar chama-me e pede para desligar o jogo que estava a jogar (quando eu não estava a jogar a nada)... ando em pânico e agora demoro imenso tempo a adormecer à conta disso. Que posso fazer??"

Assim escreveu uma visitante deste blog, de 23 anos. É uma situação característica das que aparecem nos atendimentos dos centros espíritas. Tratando-se de uma pessoa saudável, sem perturbações psicológicas nem usuária de quaisquer substâncias que provoquem alucinações. Tudo indica tratar-se do eclodir da mediunidade, ou de um período de mediunidade mais evidente.

"E há de ser que depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões." - assim rezam as Escrituras, e de facto, estamos num período em que a mediunidade se manifesta um pouco por todo o lado, na casa do católico e do ateu, do rico e do pobre, do analfabeto e do letrado. O mundo espiritual toca-nos cada vez mais, à medida que a nossa compreensão amadurece.

A nossa visitante sente-se inquieta porque desconhece o que está a acontecer-lhe.

Não é a mediunidade que é "má". A fonte do desconforto é a falta de informação sobre o fenómeno.
 
Recordamos: mediunidade é faculdade de captar, de alguma forma, o mundo espiritual. Não é doença.

O que se faz no atendimento do centro espírita, em situações como esta, varia de pessoa para pessoa e de caso para caso, mas, em termos gerais, sugere-se o estudo da doutrina espírita, pois esta contém informações que permitirão à pessoa sossegar-se e viver estes fenómenos com naturalidade.

O Livro dos Espíritos é a leitura espírita essencial, e a primeira que se recomenda. Também se sugerem as palestras, pois estas são outra fonte importante de informação.

Quando a pessoa começa a perceber o que são realmente os Espíritos (nada mais que pessoas como nós, mas sem um corpo material denso) e que estes podem fazer-se notar de várias maneiras, o medo desaparece.

A colaboração da pessoa é essencial. É a pessoa que tem que estudar, que reflectir e que orar (falaremos da oração oportunamente). A auto-ajuda é sempre o que mais conta para se ultrapassar estes desafios.

Quando a mediunidade começa a manifestar-se, mais a mais em alguém que desconhece o assunto, pode haver Espíritos menos evoluídos que aproveitam para brincar com a situação. Deus permite que assim seja, pois esse desconforto redunda num bem maior, que é a chamada de atenção para a imortalidade da alma, que por sua vez apela à reforma íntima de cada um.

"Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" - disse Jesus de Nazaré. Jesus continua a ser mal entendido, em nossa opinião. Ele não veio "lavar os nossos pecados com o seu sangue" ou exigir-nos uma vida de sacrifício e privações. Pelo contrário! A mensagem de Jesus é de alegria e esperança. Vida em abundância é vida eterna, para além desta vida. Não os infernos de horror, não os céus de pasmaceira, mas Vida! Alegre, pulsante, eterna!

É assim que acolhemos os transtornos passageiros que a mediunidade costuma causar quando chega. É sinal de qualquer coisa maior e muito boa de se saber. Depois vem a questão de como lidar com a mediunidade. Mas isso ficará para outro post.

P.S. - A nossa visitante diz-nos que captou uma informação acerca do falecimento do pai. O que fazer? Nada. Nem todos os Espíritos dizem a verdade, e a informação pode ser falsa, destinada apenas a inquietar. Se tal suceder, contudo, será a vontade de Deus, e essa é soberana.


- O Espiritismo não cobra nem aceita prendas ou favores em troca dos seus serviços. Procure uma associação espírita em Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal.


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