
O Espiritismo bateu-me à porta diversas vezes, mas
demorou até que eu perdesse as apreensões e me decidisse a averiguar do
que se tratava. Uma tia minha, era eu ainda miúdo, falava-me
frequentemente das coisas prodigiosas a que tinha muitas vezes
assistido numa associação espírita que frequentava.
Era uma daquelas
associações antigas, isoladas pela proibição Salazarista, e muito
viradas para a mediunidade. Daí que a minha tia me falasse sobretudo dos
médiuns que literalmente tocavam piano e falavam Francês - sem o terem
aprendido, naturalmente. Na minha imaginação desenhava-se uma sala
escura, vitoriana, formas retorcidas de pau preto, cortinados de veludo,
e as inevitáveis mesas de pé-de-galo. Pouco convidativo para um garoto de 12
anos...
Mais tarde, foi através do programa
radiofónico "O Passageiro da Noite", cujo animador era Joaquim Letria, que ouvi falar
de novo acerca de Espiritismo. Tratava-se de um programa de chamadas em
directo, o então novo formato phone-in, que contava
periodicamente com os telefonemas de um senhor de nome Gama Pimentel,
espírita. O apresentador do programa, agnóstico assumido, acolhia o
senhor Pimentel sempre com muito interesse e enchia-o de perguntas que
reflectiam a curiosidade dos muitos ouvintes da emissão.
Foi,
contudo, quando folheei o primeiro livro espírita que entrevi nesta
filosofia mais que uma consistente explicação para os enigmas da vida e
do mundo. "Vida Feliz", de Divaldo Franco/Joanna de Ângelis,
que encontrei por acaso, perdido num canto, aqueceu-me o coração. Filosofia
prática e popular, nem por isso menos admirável, a ideia que me fez
brotar foi a de que nunca tinha lido nada que "adivinhasse" tão
certeiramente os pequenos dilemas e preocupações do nosso quotidiano.
Quando
fui ver quem era o autor, fiquei admirado por se tratar de um Espírito.
As minhas apreensões foram vencidas pelo esclarecimento e consolo
proporcionado pelas mensagens claras e concisas. Não sabia que se
tratava de um livro espírita. Apenas gostei muito dele.
Hoje
continua a ser o meu livro de cabeceira mais fiel. Tenho um amigo que
insiste sempre na necessidade de dedicarmos ao Espírito imortal pelo
menos o mesmo cuidado que dedicamos ao corpo perecível. Uma pequena
leitura e oração, são excelente maneira de começar o dia, bem o sei. Mas
as rotinas muito materiais da manhã teimam em me atropelar os bons
propósitos... Procuro, ainda assim, uma página ao acaso do "Vida Feliz"
para ler e meditar, e sair de casa numa boa sintonia. O livro cabe na
palma da mão, é muito acessível e muito mais útil que ir, como a minha
tia, ver os médiuns tocar piano e falar Francês.
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Os
lucros da venda dessa obra, como de todas as obras de Divaldo Franco,
ainda que pequeninos, revertem a favor da obra assistencial Mansão do Caminho.
10.9.08
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