quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Bem e o Mal - 6

 

Os Mitos à Letra

Os Hebreus eram reencarnacionistas. Os Cristãos dos primeiros séculos também o eram. Quando a reencarnação foi retirada do credo da Igreja Primitiva, inevitavelmente puseram-se questões morais e filosóficas:

- Entre os bons e os maus, não haveria uma categoria de pessoas que, sem mereceram o Céu, também não mereciam o Inferno?

- Um recém-nascido ou um doente mental, sem mérito para o Céu, teriam que ser precipitados no Inferno?

Para dar resposta a essas pertinentes questões, os teólogos inventaram o Purgatório e o Limbo.

Durante séculos, aceitou-se que os recém-nascidos e os doentes mentais, após a morte, iriam parar ao Limbo, onde gozariam de paz, mas não poderiam ver a Deus, como os Bem-Aventurados.
Esta concepção deixou de ser aceitável quando o raciocínio humano evoluiu. Resolvia parte do problema, mas levantava outro:

- Que mal haviam feito os recém-nascidos e os doentes mentais para não merecerem ver a Deus?

Era flagrante o contra-senso, e a Igreja Católica aboliu o Limbo. Com João Paulo II, que também declarou que o Inferno não é um lugar físico, mas o estado de quem se afasta de Deus.

O Purgatório mantém-se, ainda que, tal como o Inferno e o Diabo, não haja absolutamente nenhuma referência Bíblica que fale da sua existência. É a Razão humana que o reclama.

A pintura acima reproduzida é de Fra Angelico (1432-1435), e retrata o Juízo Final, segundo a Igreja. É a ideia pagã do Hades que subsiste, com os Campos Elísios de um lado, e o Tártaro do outro. Suprimida a reencarnação, o destino passa a fixar-se de um modo definitivo:

No dia do Juízo Final, os mortos ressuscitam. Uns irão para o Inferno, outros para o Céu, e outros, não suficientemente bons para o Céu, ficarão na Terra, que será então chamada, segundo algumas igrejas, a Nova Jerusalém.

Este conceito pressupõe mais um mar de interrogações, que têm lançado gerações de cristãos na dúvida e na descrença:

- Se o Juízo Final ocorrer um dia, no futuro, então o Céu e o Inferno estão vazios?

- O que acontecerá às almas do Purgatório que no dia do Juízo Final ainda não estiverem 'purgadas'?

- O que acontecerá aos milhões de seres humanos que não foram baptizados nem nunca ouviram falar de Jesus?

- Como pode um Deus infinitamente Bom e Justo, condenar os seus filhos ao eterno suplício?

- Se houver vida inteligente fora da Terra, como ficará a teoria do Juízo Final?

- Se um dia voltarem à vida os biliões de seres humanos que viveram neste planeta, como haverá espaço e recursos alimentares para tanta gente?

- Os habitantes dessa Nova Jerusalém poderão reproduzir-se? O problema do espaço tornar-se-à mais premente, uma vez que se tratará de seres imortais...

- Como será possível suportar a Eternidade vivendo na Terra? Após uns quantos biliões de anos, talvez sobrevenha um certo tédio...

E poder-se-ia continuar indefinidamente. Mentes adultas já não podem aceitar tais fábulas.
 
 
 

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